sexta-feira, março 19, 2010

Dos pontos das não pertenças

Quem traz as algibeiras das camisas rotas sabe bem da vontade de não ter pontos a delinear a alma. Sabe bem dos gostos que nascem paralelos às imperfeições dos dias. O céu não terá linhas direitas a receber-nos, em jeito de carreiros. Não haverá posses, posses que se contam pelo número das suposições que, afinal, nunca serão nossas. Nada nos pertence a não ser o bem-querer que nos baste.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Cantiga das dores

Não serve este discurso parado para dizer que hoje o dia deve ser fachada. Não serve esta boca fechada para encontrar razões baralhadas. Cabe ao dia, parado e cansado, dizer que a cabeça dói mais que as pedras amarradas.

terça-feira, dezembro 29, 2009

Pássaros em dia de chuva

Caem gotas de água lá fora e a janela parece ter um fim destinado. É parapeito arrepiado de frio. E, entre uma rajada e outra, é o melhor abrigo dos pássaros, que piam, embora ensopados, com alegria privada. Deixo-me estar. Não há maior quietude do que nada fazer e contemplar.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Abençoada ruralidade

Quando é que as pessoas percebem que a vida não se compra nem se vive em centros comerciais? Falo da vida vivida, da sentida e da que se deita de barriga para cima para receber o melhor. A vida, por si só, é despida. Acreditem que ela não está nas paredes ocas do consumo. Aí, onde vocês julgam ser o vosso melhor passatempo, não se vende a proporção certa do amor. Não se empacotam as sensações do vento, não se sacode o sol para dentro do saco e não se expõe o rio na vitrina. Aí não cabe a liberdade, os cheiros dos pomares e das gentes, a conversa fiada dos cafés, a vizinha da esquina a varrer a rua, o cão solto a ladrar, a criança suada a correr, o homem enrugado do sol, o céu. E só assim acredito poder nascer um novo dia. Isto tudo a propósito da menina, no alto dos seus 18 anos, com tiques citadinos. Sim, porque veio passar um fim-de-semana ao Alentejo e não encontrou um Centro Comercial. E depois disto eu digo: abençoada ruralidade.

terça-feira, outubro 20, 2009

Férias e hoje chove que se farta

Fui de férias. De tudo e de quase todos. Fui das notícias, das mesquinhices, das conversas de nada e da vagabunda vida de acordar para trabalhar. Fui de férias e o tempo sorriu-me com um sol quente de verão, no Outono. Deu nas trombas do clima frio e brindou-nos a nós e a mais uns quantos ingleses com a luminosidade da vida boa. Acordar, café, chinelos no dedo, praia, mar, caipirinhas, sol, comida fresca, uvas ao pôr-do-sol, leituras, noites, dormir, música, gargalhadas, descanso. Pelo caminho várias trocas de palavras e de carinhos. Ontem acordei e voltei à rotina. E, hoje, chove que se farta, mas porquê desgraça? Podem apontar-me todas as razões do calendário, mas as primeiras chuvas picam-me as entranhas de saudades do sol e são-me mais fatais que qualquer destino.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Dá para esclarecer?

O Verão está a ir e já sinto um arrepio na espinha (maldito Inverno que ameaças sair da toca). Mas ainda mexe, ainda anda com penas fácies de voar e cheira a melancias de bocas regadas. Não se foi. Estará por cá mais um tempo e o corpo respirará por mais tempo. Teremos os poros abertos ao ar e guardaremos o bolor/musgo/cotão para depois, para os dias cinzentos, esses que sem remorsos nos deixam pálidos e frágeis de viroses de várias índoles. E tenham a humana muito em conta. Estão 34 graus lá fora e, aqui, isto é uma temperatura razoável e que não provoca alaridos. A minha gente só comenta os 39/40. Mas adiante. Comecei, eu, com esta lengalenga para explicar que sou terrivelmente perdida pelo estio. Porém, há coisas, nesta época, que me deixam com uma tremenda sensibilidade neural. Arrepiam-me as pessoas que estão horas em filas para entrar numa discoteca, em que pagam 20 euros com convite. Ora se isto é um convite eu já sou do outro tempo. Arranjados com os melhores trajes ali ficam a ver passar os Vip´s (coisa pouco sólida) que desfilam na passadeira ao lado com caminho aberto e à borla. O povo contenta-se e acha que está na berra. Depois, eles, os Vip’s, ficam num pedestal e o povinho fica cá em baixo a olhar para cima a ver se os vê. Dá para esclarecer? É que não sei se isto se pega e estou com medo que me espirrem para cima e que esta merda me mate.

quinta-feira, agosto 06, 2009

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Porque chegas-te tão tarde, mas a tão boas horas?