domingo, março 27, 2005

Nos olhos...

A espinha nem sempre curva ou dobra, mas dobram os olhos e deles caiem sal de alegria ou de tristeza…frescura que refresca o rosto de cor transparente.
E retiram a sede da pele mas não do coração. Porque essa é uma sede que não cessa através de gotas. Inunda-se a vontade mas não se criam cheias ou inundações no músculo. E enxuga-se de todas as formas o sentir, e o mar da praia é menos vasto que a sensação…de chorar a rir ou de chorar apenas por não se conseguir sorrir.
E nesses momentos sim, se sentem os arrepios na espinha… e aqui dobra e curva, por balançar ao mesmo ritmo da queda dessas gotas de sal, e por sinal das batidas mais aceleradas e sentidas do ser. E eles enxergam a alegria e a tristeza... e sentem tanto e por vezes tão mais que o corpo no seu todo. E deles brotam sorrisos e gargalhadas, despedidas e mágoas, e partem-se vidros e amachucam-se as risadas…por tanto e por tão pouco. Mas, certamente tão profundo e choram porque assim se expressam, assim falam e cantam.

terça-feira, março 22, 2005

E assim se salpicam os dias...

Salpicam-se as noites...
de estrelas e de céus menos azuis...
Salpicam-se as horas de tempo...
Os minutos de segundos...
Salpicam-se os sorrisos e os olhares...
distantes e próximos...
E viram as páginas do avesso...
E o livro continua a decorrer...
Muda-se a página...
Salpica-se a leitura de interpretações...
E volta a rotina dos salpicos...
Salpicos de paladar... de partidas e chegadas...
Mas o dia continua, com o simples salpico da existência...

terça-feira, março 15, 2005

Sonhos...

Giram as gotas e o orvalho cai em tons de refresco. Fusco o toque erudido do chão sempre quente. Brisas de silêncio e murmúrios de pensamentos mágicos... ilusionistas da vontade de sair para o abismo, mais que finito para os racionais mas tão vasto para quem não precisa de dormir para sonhar. E aqui se procuram as asas...e elas levam para paragens mais claras que o céu. Nuvens transportadoras de matéria colorida e imaginária, mas real e sentida. Mergulhos em água cristalina e o sal apenas se funde nos olhos, mas capricha na visão repleta. E caiem estrelas e o mundo roda, e ficam as doses de sorrisos cúmplices de faces rasgadas. E não são necessários corantes para atribuir cor, paletas de tinta correm na mais pura tela e ganham voz e sentir...No único quadro real...a capacidade de sonhar.

quarta-feira, março 09, 2005

Calendários...

Esta comédia genial de nos pendurarmos no tempo e ficar agarrado a ele.
Um encontro de dias e noites e uma hora repleta de minutos, esquecida dos segundos e longe dos mostradores de ponteiros. Absurdos os calendários que riscam o presente e projectam a ansiedade pelo futuro. Datas idênticas ano após ano, repetem-se nos mesmos meses, nos mesmos dias, para não apagar da memória dos que se esquecem por natureza.E assim, se exorcitam os fantasmas, se celebram as tradições e comemora-se sem saber o significado.
E eis que o dia seguinte, apenas chega discreto... e a recordação essa, só volta no ano seguinte.
E são necessários então dias especiais para recordar?

domingo, março 06, 2005

Palavras...

Palavras que tocam sinos de aviso e batidas aceleradas, densas e contidas dentro de uma garrafa vazia e transparente que amolga o bater e faz estremecer o âmago.
Palavra de soma de letras, que no entanto, somam mais que a própria conta. E ficam as junções de sílabas conjugadas não num tom vocal mas escrito…E correm a maratona do sentir num só segundo vago. A entoação fica solta e valem mais que o cronómetro do coração. Minúsculas e maiúsculas as memórias, do que dizem e não se esquece. Abecedários infinitos a pensar e o convite por escrito ficou feito. E fica a leitura de quem as enxerga sem as poder mudar…