quarta-feira, setembro 28, 2005

Época de promessas...

Espanta-se o Zé pela mudança do tempo, avanços e recuos de vidas. Em sua mente já não cabem mais viradas. Os teclados ferem a vista e atrofiam as mãos enrugadas pela terra. Máquinas a mais para a soma dos anos da sua existência. De conhecimento apenas a tabuada, os rios, e caminhos de ferro. O livro de poemas do António da aldeia fazem as delícias de quem escuta rimas que falam do campo... é o que mais sábio Zé já ouviu proferir. E então chega o político que tenta entrar em qualquer fechadura, promentendo mudar a vida de quem já passou por ela e a desafiou dezenas de vezes sem conta. E então fala no PIB, no défice, palavras que o Zé não entende e que para sí nunca foram necessárias para um só dia de uma vida. Promete o novo lar para idosos, o novo futuro hospital...promete arranjar as ruas da freguesia, dar emprego aos jovens. Oferece-lhe o panfleto e o avental para a esposa e indica ao Zé onde colocar a cruz. Ainda grita: - Vamos juntos mudar isto!
E eu pergunto onde fica o juntos pelo caminho. E o que foi feito do Zé?

quarta-feira, setembro 14, 2005

Passagem permanente...

O som faz eco pela sala, a parede branca fere a vista. Diria mesmo que mais um pouco e também eu seria cal. Essa tinta corre entre os anos, persegue este crescimento. Cada vez que ai passo ainda escuto as gargalhadas ainda me revejo de calções e canelas finas.
Já não vejo os adultos como velhos. Eu é que já me sinto com saudades do tempo.
E passo pelos anos em ti, passo de todos os tamanhos, de todas as maneiras, passo não apenas por passar. E deixou-me ficar...fico porque ai é o canto que fica por trás do nada e pela frente de tudo...

quinta-feira, setembro 01, 2005

Tempo nulo...

No dia zero que ninguém vive, no tempo nulo que ningúem percorre viajam os sonhadores. Então entre panos brancos, deita-se a cabeça sobre a almofada quadrada, as vezes tão quadrada como a mente de muitos. E as palparas encerram a jornada o escuro opaco do dia. Correrias assaltam a noite, encontros, desencontros, aproximações e afastamentos. É um misto de felicidade e medo. A essência do amargo e do doce. Tão rápido estamos em Jacarta, como estamos numa esplanada em Lisboa. E que bem sabe esta sensação de viagem, não fosse somente das melhores deste mundo. No entanto, depressa morremos como assistimos à morte. Depressa somos heróis como somos derrotados. E então voltei a pensar acordada e o sonho é apenas uma personificação da vida. Nem a sonhar escapamos da sua inércia madrasta ou de fortuna.