quinta-feira, dezembro 28, 2006

Política...

Aqui existem muitos comunistas e vários socialistas.
Dizem que os democratas distinguem-se ainda, nos dias que correm, pelas terras de cultura.
E assim, é o mesmo que dizer que continua a real distinção entre lavrador e agricultor. É verdade, passados tantos anos.
Os anos passam, mas a mentalidade vai ficando meio agarrada ao passado e meio desprendida do futuro.
Metem-se rótulos mesquinhos agarrados à cor política. Como se um homem deixasse de ser menos homem por ter ideias dispares dos seus semelhantes. Ou como se uma mulher deixasse de ser menos robusta por ter ideais menos convencionais. E depois formam-se rivalidades angustiantes e tão antigas, como o dia de ontem. E gente com o mesmo número de tronco e de cabeças disputam como hienas por um osso. E, esse, o osso hoje fede tanto que o País não anda. E um dia que me queiram falar em democracia venham desprovidos de osso e digam, somente, queres participar?

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Natal de presença e não de presentes...

No Natal faz-se sempre uma retrospectiva do passado. Sim, aquela saudade que bate. Aquele sentimento de infância distante. Já vivi dias com mais entusiasmo nesta quadra, é verdade. Já cantei coros, já proclamei poemas, já escrevi cartas e tentei portar-me bem melhor próximo do dia 25. Desejar montar a árvore de natal e colar-lhe tanto chocolate que já nem existe. E agora, acho mais piada a uma que apresenta um design muito mais atraente. Ele há coisas!
Tempo houve que deixava o sapatinho junto à chaminé e fazia turnos com o companheiro de sempre (mano) para apanhar o pai natal em flagrante. Vê-lo tisnado e sem caber na chaminé. Sim, porque sempre foi algo de que não me convenci: Como é que um senhor tão forte (gordo) - forma que me deram do Pai do Natal - cabia naquele buraco estreito?
Fazer a lista de presentes, querer tachos muitos tachos e fruta de plástico. Montar a barraca, no dia seguinte, e cozinhar com terra, água e ervas sopas para os presentes que comiam lá dentro, no quente. Mas qual frio qual que se era Natal? Sair para a rua e mostrar aos amigos. Olhem esta máquina de costura para apenas dar pontos em trapos, este carrinho para passear a barbie, esta bicicleta amarela, esta barriguita com o cabelo que brilha no escuro, este lego, esta casa dos pinipons e mais esta concertina. E afinal, o Natal era apenas para alguns, tal como hoje...E afinal, o Natal já nem brilha por os presentes, aliás acho que isso sempre foi só mais um acréscimo e até desnecessário. Porque a mim, o que sempre em deu prazer e alegria nos olhos foi juntar a família. E o tempo passa e os pilares mantém-se. Sempre lá os mesmos que consideram isso como tal...os mesmos que anos após ano, persistem para além das caixas de embrulho. Os mesmos que ainda sabem o valor da presença, mais do que o valor dos presentes.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

O livro dela, Carolina...

Ela, a Carolina é verdade tem posto o País a ler. Não como um sol posto mas como um sol forte de a (gosto). E já que é a gosto que se desfrutam palavras, creio não encontrar-lhes aprazimento. Não acho piada a vida do Pinto da Costa...a não ser que ele fosse um pinto dado à costa! Mas bem no fundo é triste, ou bem à superfície seja mais que se percam os olhos sobre letras só porque escândalo brota. Um supermercado com o nome que os madeirenses e açoreanos se referem ao resto do País, para não passar a publicidade gratuita e descarada, em domingo natalício estava cheio à pinha. E gente trazia junto aos repolhos, à lixívia e champôs para o cabelo o livro dela, da Carolina. Não é triste que o leiam...é só triste é que a venda dos livros daqueles sem capa de revista (cor de rosa) não tenham assim tanta saída. Só isso.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Em Dezembro?

Quem pensa que a época natalícia amolece os corações desengane-se. A fraternidade, alegria, espirito de ajuda, bondade e perdão não fazem parte desta quadra. A PSP resolveu mandar-me uma prenda adiantada, mas sem embrulho. Nem esse prazer deu. Um presente seco e sem piada. Antes chegassem as peúgas, as camisolas interiores, e as cuecas que já ninguém usa. Enfim...o estacionamento na cidade aqui do meio do Sul, anda caótico! Eis que um Parque de uma Igreja Universal de Deus, Maná, Evangélica, não sei bem, mas é em nome de Deus resolveu fazer a revolta dos irmãozinhos, logo na mesma quadra que se comemora o nascimento do filho do seu ente. Por bondade sempre deixou os descrentes, como eu, estacionar ali. Contudo, eis que chegado o mês dos cristãos, dos evangélicos, dos manás e dos universais de Deus e surgiu aquele telefonema para a PSP. Achei mal. É que se fosse multada em Agosto, Novembro, Janeiro, Fevereiro era mais confortante. Agora em Dezembro? Depois pensei, eis o castigo de Deus a chegar aos diabos que não se convertem. No entanto, ainda me deram a oportunidade de pensar melhor e não me rebocaram o carro. Levei só aquele aviso com a multa de estacionamento. Aquele aviso de que ainda estou a tempo de me render a cristo antes do juízo final.

domingo, dezembro 03, 2006

Hoje...

Talvez amanhã seja Segunda…e daqui a pouco ainda seja Domingo. Quem sabe?

sábado, novembro 25, 2006

A culpa é do André...

Há coisas que enfeitiçam as pessoas. Cheguei a essa conclusão hoje. Creio que há por ai muita gente que gosta de uma balada, de uma moda, de uma música, de uma canção, de qualquer coisa que sai da boca do André. Passo a explicar. O rapazinho anda a enfeitiçar a mente e os corações de muita gente. Quem não ouviu já na rádio umas notinhas músicas que a sonoridade remete para o coração e a letra cobre os olhos. Passo a citar: “Eu não sei o que me aconteceu. Foi feitiço o que é que me deu. Para gostar tanto assim de alguém com tu…” E agora eu pergunto. Tem alguma coisa de romântico esta música que deprecia o outro? Parece-me a mim que o que aconteceu ao André foi algo de muito mau. Diz que não sabe o que lhe aconteceu, coisa boa não foi portanto. Depois remete para o inexplicável. Chega mesmo a acreditar que lhe mandaram maldição, pós mágicos. Mas pior como pode ele gostar assim de alguém como essa pessoa. Parece-me a mim que esse ente não é flor que se cheire. Mas isto é eu a pensar. È que por mais voltas que dê não consigo encontrar explicação. Como pode alguém dedicar esta música a outro. Por isso ou sou eu que ando a ver as coisas ao contrário, ou o André explicou-se mal e anda a ser ambíguo. E pior anda a enfeitiçar a mente dos seres. E a está altura alguém deve estar a sussurrar ao ouvido de alguém: “Foi feitiço o que é que me deu. Para gostar tanto assim de alguém como tu…E se isto fosse na minha cartilagem eu estava, neste momento, a achar-me algo de muito mau…

quinta-feira, novembro 23, 2006

País que termina em (inho)...

Eu queria duvidar do estado do País, queria mesmo que ele fosse um Estado.
Mas parece que sofre de problemas crónicos que o reduzem para algo com a terminação em inho, talvez estadozinho. Um hospital: gente muita gente, médicos nem tantos, enfermeiras à conta, radiologistas pelos dedos da mão, gente que sofre, assim a assim, e gente com dor interminável. Mas este é o cenário já habitual. Somos o País que investe nos médicos e poupa nos engenheiros. No entanto sou adepta da aptidão. Tenho para mim que muita gente foi para determinados cursos consoante a média. E neste caso o nosso desenvolvimento sente-se, mas isto é para mim. Enfim, uma consulta marcada há dias e dias sem conta, porque esperar é a regra. Um exame para fazer, mas disponibilidade nula para o realizarem. Conclusão: consulta mais uma vez adiada, exame por fazer. Estado de saúde mantêm-se até ver...e depois dizem que a Saúde é para todos. Não suporta-se eu o adiar da questão (dor suportável)...e era menina para dizer que amanhã ia já ao privado. Eu que gosto de um Estado Público e não de um estadozinho semi-qualquer coisa.
P.S- já tinha tentado publicar este post antes, mas o meu blog tem vida própria e não deixou

segunda-feira, novembro 06, 2006

Repasso...

Os dias têm sido de chuva. Dizem que as mentes arrefecem, encharcam e molham-se. A minha flúi gotas, pequenas bolas que me deslizam pelo cabelo escuro. A água anda cá fora, mas o repasso há muito que deixou entrar água por a mente e pelo corpo todo. Nestes dias 50 por cento de mim é agua o resto é riso.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Memória em Baú...

O dia claro. Sol morno de Outono. Uma manhã cheia e um dia ainda largo. O fim-de-semana rumou a sul. Portimão como destino, sim porque nem só de verão se goza a comodidade e há que dar uso à estrutura do edifício. O mar mesmo aqui ao lado. Companhias a 3, número perfeito dizem. Uma roda atrás da outra e Caldas de Monchique no horizonte. Voltam os arrepios de frio. Volta a saudade e os mistos misturam-se, e ele há coisas que a própria razão desconhece e ficamos assim embasbacados, sem pinta de nexo. Respirei e senti oxigénio a rolar. Os olhos, esses, acho que brilharam. Um turbilhão de coisas a virem e a memória a andar para trás. Estou tão alta para os bancos que me senti demasiado perto dos tampos das mesas de madeira que continuam a povoar o largo. Olhei e parei no tempo. Encontrei-me de camisola de alças com um barco desenhado ao peito, calções azuis e uns chinelos amarelos e brancos que o mar me levou. Água nos ouvidos, ramagem verde sob a cabeça e uma infância a descer ao presente. Correr para ir à fonte, fazer birra para não ir beber a água termal e desejosa de chegar à banca da fruta. Ver sair os pães do forno, pedir para que me comprassem não um, mas muitos. Mesmo que o estômago aguenta-se apenas um. Coisas boas que o verão proporcionava e as férias aguçavam. Subi a serra, e o café à beira da estrada continua igual. O mesmo cheiro e as caricas continuam a povoar o chão que, ainda hoje, é de cimento. Acho que a ementa deve ser a mesma: frango assado. Debrucei-me, como fazia antes, e trouxe uma carica para casa. Na rua a mesma senhora de sempre, não me reconheceu, devo ter crescido. A casa continua cheia de tralha, acho que o tempo não passou por aqui. E lá estava o primeiro andar que nos dava guarida todos os verões, somente, pintado de amarelo. Ele há coisas que a memória guarda em baú.

domingo, outubro 22, 2006

Pedaço de conversas...

Eu nasci já morto e de olhos fechados. Hoje já nascem de olhos abertos...

Foi a frase que ouvi ontem dentro da cartilagem. Vai lá saber-se o porque, mas fez eco no cerébro...coisas soltas de uma mente à solta.

domingo, outubro 15, 2006

A minha amiga Gata já é mãe...

Um pé junto ao outro, um fato de treino rosa e um balanço na cadeira inquieto. É assim que me recordo de ti pela primeira vez, dessa, em que eu tinha calções de peitilho verdes com uma camisola rosa e uns sapatos que faziam barulho. Caracóis claros e eu de cabelo escorrido e escuro. Dedos, olhos grandes e expressivos, gargalhadas descontroladas e a barriga apertada por doer com tamanha actividade alegre da alma. E passam as canelas finas, passam os pátios de soalho vermelho e já não ouvimos as campainhas num grito que alterava a garganta, como algo descontrolado mas de extrema importância: “É entrada da Dona Dorinhas”, lembras-te as veias ficavam alteradas? Mas davam ar de responsabilidade! Bem lembro que nunca te preocupas-te com tal facto, bem me lembro, de ser uma seca em que reviravas os olhos. Vejo-te do contra, da oposição sempre, mas de uma oposição ingénua. Não medias o que dizias, tão pouco o que fazias. Eras um destrambelhamento andante em terra firme. Abominavas a vida, mas rias tão intensamente que acho que eras sarcástica. Lembro-me de te ver ir sempre sozinha, sempre com os caracóis a deambularem até virares as bombas de gasolina. Gata, não era nome fácil de criança, raramente te ouvi chamar Cristina. Gata, Gatarda, Gatarrona, em ouvidos de cartilagem infantil. E reviravas os olhos, esses, cor de mel. Criavas no ar, imaginavas e acabava sempre por algo correr mal... Sempre a mesma vítima do destino! Bem sei que era abuso, mas quiçá algo tão genuíno, que raramente encontro melhores memórias. E agora já tens mais um cordão umbilical, e agora já não te vejo a ir sozinha até a esquina, ainda te enxergo com a cabeça cheia de bolinhas amarelas da árvore, fecho os olhos e vejo a queda de cima do teu troco, do teu quarto imaginário, no primeiro andar, quando todos se contentavam com o chão e os pés firmes. Vejo-te a rebolar pela tábua solta da sala de aula, numa irritação desmedida, vejo a minha cara de otária, ou melhor as nossas, quando a tua piscina não passava de uma farsa. Vejo-nos dentro da arca frigorífica e afinal já nem fruta tem comido juntas. Estas longe, longe de mais até. Mas perto da minha cabeça, perto sempre da minha vivência. E hoje quando me chamaram com um toque e me disseram que já tinhas o teu bebé senti um misto do que já não volta. Bolinhas de sabão, saudade, cordas de vidas, risadas, e felicidade hoje mais do que nunca te sinto acompanhada. Imagino-te no mesmo desespero de sempre, na mesma resmungona de todos os dias, nas mesmas piadas e risos em que cerravas os dentes. Encontro-te a delirar e tão feliz como nunca te vi, que me fazes feliz a mim.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Cristo na Parede...

Já há muito tempo que não entrava numa sala de aula de uma escola primária, mas o cheiro ainda é o mesmo. As carteiras são da mesma cor. Os desenhos apresentam cabeças de bonecos desproporcionais aos corpos. Árvores e pássaros desenhados em n. Lagos, patos, pais, mães e irmãos tudo estilizado. Sente-se alegria nas tarefas que moldam as mãos ao barro, à plasticina e ao cheiro da tinta. Tudo na mesma. Somente, as minhas pernas parecem não caber nas mesas e batem no tampo. Não tenho a mochila carregada de canetas de feltro, muito menos de lápis de cera. A minha mãe não forrou os livros nem lhe colou etiqueta, tenho um bloco que em criança, jamais carregaria comigo capa lisa, sem imaginação ou bonecos a povoar não entrava no cesto das compras. Já não desejo escrever a cores e já não invejo os que andavam à minha frete no percurso escolar, que carregavam nos estojos canetas de tinta vermelha e verde.
Nada mudou muito, os mapas continua a marcar presença, os quadros, estes, já não são de cor verde nem o giz faz espirrar os alérgicos, nem o apagador se vai bater lá fora, numa vontade desmedida que me calha-se a mim. A escola não mudou assim tanto, apenas os morangos com açúcar e a floribeela invadem os cadernos e já não se usa o tom soyer, nem tão pouco a série da Brenda e do Dylan. E no meio de pequenas mudanças de época, somente, uma coisa permanece igual como há anos. Olhei para a parede e lá estava ele Jesus Cristo numa cruz. Pensei de não ser possível, tal imagem nas paredes de hoje, e pensei da imposição de uma religião já não reinar nos claustros das escolas portuguesas. Mas parece que afinal pouca coisa muda...alias as mentalidades são o que mais dificilmente mudam. E cá vão as crianças de hoje, olhando para o alfabeto com o cristo no horizonte... E eu pergunto nas escolas de hoje, não existem já crianças de outras religiões? Não existe já quem não tenha sequer religião?

quinta-feira, setembro 28, 2006

Cérebro em gelo...


Frio na espinha, arrepio, coisas geladas é assim que se desenvolve o meu cérebro em tom de troça para comigo mesma, estupidez é essa hoje a palavra que me percorre. Ata, desata, coisa apertada e o frio volta. Preciso de um cachecol à volta da cabeça pode ser que ela aqueça.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Anos há...

Anos há em que as paredes de gente criança e adulta por estes dias, se enchiam de destemida vontade, de tamanha coragem e de pouca vergonha. Paredes fáceis quando as coisas eram fáceis de dizer. As pessoas crescem e deixam o atrevimento para trás, com ele ficam os murais, as secretárias, os cadernos, as bolsas dos lápis e as mochilas pintadas. O corrector passa a ter só uma utilidade – apagar erros de canetas - canetas de cor deixam de fazer sentido, e borrachas pintadas parecem ridículas. Hoje, lêem-se os sonetos e murmura-se para dentro, até se tem vontade de dizer, mas as palavras não se descolam da boca. Anos há, para esta gente, que era fácil dizer: Amo-te. Anos há em que se escrevia na parede para toda a gente ver, anos há em que se esfolavam as portas das casas de banho, e se deixava o nome gravado a perpetuar, juntamente, com a data e o nome da outra pessoa. Anos há em que se dizia Forever, por o inglês soar sempre melhor aos ouvidos, quando a descoberta encaminhava as coisas fixes de dizer nesta língua dos filmes, e as menos curtidas as remetia para o português.
Há anos que as pessoas não dizem amo-te com tanta facilidade, tantos anos que acham que são coisas tolas de crianças. Mas anos há também, em que amo-te saía sem sentido, paixões passageiras de sofrimentos rápidos. E hoje as pessoas sentem a sério e não dizem porquê? Por vergonha, porque afinal acham-se ridículas ao dizer, e afinal as paredes e os murais, as mochilas e as bolsas dos lápis, as borrachas e as portas das casas de banho das áreas de serviço, deveriam de voltar à baila do dia, para tirarem palavras difíceis da boca e mostrarem frases fáceis de ler.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Girassóis no Armário...

Há quem queira fazer das coisas mais do que isso, mais do que coisas. Há quem precise de reforçar a ideia para se sentir em pleno. Há quem precise dessa identidade global, dessa que realce aos olhos os sítios onde estão. Há no fundo uma necessidade de identificação, uma pura falta de pertença. Nas ruas as pessoas deambulam quase sempre com os olhos no chão. Falta de tempo? Falta de imaginação? Ou pura vontade de passar rápido? Mas depois chega-se aos locais e quer-se realçar a presença. Mesmo que passemos rápido pelas ruelas e não observemos o calceteiro, a mulher com o saco das compras, ou a loja dos tantos Xicos deste País, que vendem desde o pão aos candeeiros para a mesa-de-cabeceira. Então estava eu a ler um matutino, rindo com piadas reais e uma senhora com faro dos lados de Lisboa, interroga-me, “ – Sabe onde posso encontrar alguém que pinte em vidro ou madeira”. Pensei, e dei voltas à cabeça e nada me ocorreu. Mas a senhora citadina explicou-se melhor e disse: - “Eu já sei quem é o senhor que faz, não sei é onde fica”. Ai tudo se tornou claro. Contudo a mulher insistiu em dizer: “- Sabe é que tenho lá uma armário, mas queria dar-lhe um ar mais alentejano, mas rústico. Queria desenhar uns girassóis ou assim...Não sei se me compreende”, frisou. E adiantou que “agora tenho uma casa no Alentejo”, coisa fina nos dias que correm...para quem descansa das buzinas.
Pensei na resposta que lhe devia de dar. Tivesse eu dito e teria posto em causa a hospitalidade deste povo.
Apercebi-me, que a senhora não tinha ainda percebido, que não era necessário pintar os armários, para pertencer a esta alma. Que as verdadeiras casas rústicas o são por tradição e vivência e não por modernismo estético. Vi que a senhora ainda não tinha reparado, que aqui, a vida corre normal como em tantos outros sítios deste País. Não se dão ares alentejanos, porque o são em estado natural. E ai, no dia em que a senhora consiga perceber que aqui o que muda é que pode abrir a janela e ver girassóis reais sem estarem pintados no seu armário citadino, ai nesse dia, digo-lhe o que realmente pensei.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Procura-se

Gente não acomodada em todas as áreas...procura-se...



terça-feira, agosto 29, 2006

Geração dos químicos...

Hoje a temperatura aqui da cidade anda elevada. E eu a subir rua com inclinação acentuada, nas minhas pernas ainda não muito gastas pela vida. Quando por mim passa, com o dobro da minha velocidade, uma senhora como mais do triplo da minha idade. É caso para dizer que já não se fazem pessoas como antigamente.
Pela negativa eu desconfio que já sou da geração dos químicos, desses das maças, das alfaces, da água e dos corantes...

quarta-feira, agosto 23, 2006

Só pelas coisas simples...

Vieste de longe. Eu vim de perto.
Sabes para onde vais?
Não somente ando perdida nos dias, como sempre
É melhor não me seguires.
E se seguir?
Somente tens de te encontrar. Como os homens da bolsa e os senhores bancários, e os médicos, e os advogados aparentam ter sempre rumo certo.
Eu vim por causa do emprego. E tu?
Eu só cá vim ver a água.
A água porquê?
Só pelas coisas simples da vida.

terça-feira, agosto 22, 2006

Rico mas tão pobre...

Tenho andado por ai. Com a cabeça a flutuar, com o corpo a entranhar. Tive aqui e ali, acolá e agora ando por cá. Tive nas rotas, nas direcções. Tive sem tempo, com tempo tive somente a absorver. Numa das paragens temporais, tive em Puerto Banus. Entrei já com os olhos ostentados. E ainda hoje brilham a ouro falso. Senti o cheiro das notas, da luxúria e ali considere-o o pior dos pecados. Tantos olhos e tão pouca barriga. Seja o prazer de quem tudo queira sem sabor. O diabo andou à solta em Puerto Banus, remexeu nas mentes e desenhou-as aos cifrões. Senti um vazio, uma falta de cheiro, de terra e calor humano. E deslizavam na avenida como quem desliza em passerelles, com o peito para fora e as marcas espelhadas aos brilhantes pelo corpo todo. Os carros que em euros são difíceis de fazer a conta, amontoavam-se num desfile de vaidades e cilindrada. E eu a pensar que logo ali a milhas uma criança morria à fome. Não uma por dia, uma de oito em oito minutos e agora sim, por dia.

segunda-feira, agosto 21, 2006

O romantismo anda doente...

Ele há coisas que me fazem confusão, entre as várias encontro umas que os ouvidos encaram como dolorosas. Coisas simples, mas tão ridículas, tão vazias, tão sem nada que me parecem ocas. Estava a almoçar, tranquila com a cabeça mergulhada em conversas e risadas sobre tudo e sobre nada. Ao nosso lado um casal estava apaixonado, coisa boa portanto. No entanto, o rapaz abria a boca e acabava com qualquer romantismo inteligente. Fonemas saiam repetidamente, o que atingia a maior percentagem era bebé. Bem, há por ai alguma mulher que goste de ser tratada por bebé ? Eu acredito que o amor tudo tolera, mas e a criatividade, a originalidade, morreu pela boca. Bebé é mau diria péssimo. Apeteceu-me dizer ao rapaz para arranjar outro adjectivo, mas vai na volta são só gostos e não se discutem. Como dizia o outro cada uma sabe de si. A conversa prosseguia e não tardaria a saltar da boca do rapaz outro adjectivo fofinho, diria mesmo rechonchudo. Gorda. Normalmente, todas as mulheres ficam meio atrapalhadas com esta palavra. É algo não desejável, não o fosse e não correriam para o ginásio até as pernas gritarem: pára! No entanto, mais uma vez nesta situação é encarada como palavra querida. Mas o pior é que a rapariga era magra. Mas ok, o romantismo anda afectado pelas coisas pirosas, anda doente, cego aos olhos dos crentes.

domingo, agosto 13, 2006

A Sudoeste...

Andei por terras com música, ainda trago no ouvido sons, risadas, festa e sorrisos abertos. Andei por terras onde a linguagem é universal, onde apenas notas melódicas são dialecto oficial. No meio da planície, onde o mar quase corrompe o pasto, ergueu-se a cidade das vibrações. E lá no meio pula-se que nem doidos, e as pessoas andam mais descontraídas que o habitual, e vale tudo até o sol raiar. Cheguei ainda o sol caia, pó foi o primeiro sinal de que estava a entrar em recinto certo, carros amontoados, em planície vasta, o nome em tudo lhe assenta fica mesmo a Sudoeste. Troquei o papel por uma pulseira e senti-me com um pedaço de mar no braço (Azul, costa Vicentina). Gente, muita gente, àquela hora procuravam jantar, tendas muitas tendas, tantas que qualquer buraco servia. Vizinhos a perderem de vista. Tudo a postos, encontro a minha tribo, já com o espirito no corpo. E cá vamos, palco principal como destino, um dos meus primeiros objectivos estava cumprido, Goldfrapp nos ouvidos. Temi pela desilusão, mas não. Um recinto de publicidade, tudo são marcas, uma operadora telefónica até fazia doer os olhos, e mesmo sem querer também eu andava a fazer publicidade, no pulso. Cabeças flutuam no horizonte, muito humano junto, mas mesmo assim, consegue-se encontrar os conhecidos, choquei com todos os que queria.
Noites dentro, festa, e música sempre entre o cérebro, o corpo e a cartilagem...escolhemos bem os destinos, oferta vasta. Da nossa selecção para perpetuar saliento: Goldfrapp, Prodigy, Buraca Som Sistema, Legendary Tiger Man, Macaco, Marcelo D2 e Daft Punk. Muitas decepções pelo meio. Já agora quem conhecer a Skin diga-lhe para cantar em vez de gritar. E os Madness não fizeram luz ao Ska.
As manhãs eram mesmo alvoradas, calor a mais para dormir em cenário de estufa. Filas para tudo, mas com alguma manobra, comíamos bem rápido os cereais, também oferecidos. Os brindes chovem dentro do recinto e as pessoas amontoam-se em busca das borlas, mesmo que depois não sirvam para nada. Zambujeira do Mar é o trajecto mais conhecido, todos os caminhos vão dar ao mar. Pelo percurso esplanadas repletas e o dinheiro a ficar, que mais não seja, uma vez por ano, no Alentejo.
No recinto os estilos são vários, passeiam rastas, cristas, cabelos compridos, curtos, gentes com cores e gente de negro. Há de tudo, mas o que mais houve nesta edição foram os óculos tipo aviador...há por ai quem não tenha?
Muita bebida, fast-food, e comida razoável também. No entanto, tudo caro, tudo a apontar para bolsos fartos, tudo lá no cimo. É caso para dizer: já que o espírito está, porque não há-de estar a carteira também? E depois as pessoas pensam e vêem que afinal o Sudoeste é em Portugal.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Agosto...

Chego à hora que dita a entrada em mais um dia de trabalho, normalmente percorro artérias em busca de um lugar, com sorte acabo sempre por encontrar. Mas agora, nem artérias percorro, não busco estacionamento, deslumbram-se perante os meus olhos espaços vastos à escolha do freguês. É Agosto e o povo aqui da cidade encontra-se literalmente de férias, os que não estão suspiram por elas, mas basicamente o sentimento é o mesmo. As ruas andam meio desertas, aos serviços falta-lhes gente e o ritmo anda tardio. Chego ainda com o sumo na mão, encontro menos gente que o habitual, o calor aperta, os olhos ainda dormem, os jornais inventam temas, em Agosto dá-se importância a tudo aquilo que normalmente se risca em meses atribulados.
O País está a banhos, mergulhado no sentimento bom do Verão. Fugas repentinas, afugentam as preocupações do quotidiano, enterra-se a cabeça na areia, esticam-se os pés na esplanada e flutua-se por 15 dias em profunda alegria. E depois o Agosto vai e o Setembro já começa a recolher os cheiros do Outono, e depois o Inverno chega e a depressão volta à baila dos dias. A Primavera anuncia a viragem e depois...depois é Verão outra vez. Mais 15 dias de felicidade...em Agosto.

segunda-feira, julho 31, 2006

Raiva...

Hoje peguei no DN, não foi sequer necessário folhear as páginas para me arrepiar. Fiquei ali pasmada com tamanho choque, senti um frio que me consumiu por dentro, imóvel, com uma má disposição, ar a menos e raiva a mais. “Ataque de Israel à aldeia de Caná”. 37 crianças vitimas do mundo estúpido fundamentalista. A imagem não me sai da cabeça, e a indignação do corpo. Impotência...não consegui voltar a pegar no jornal...não me apetece ler. Apetece-me gritar em ouvidos moucos, chamar-lhes muitas vezes estúpidos, ignorantes, cobardes, mesquinhos, desprovidos, calculistas, absurdos, otários, palermas, adjectivos vários. Guerras em prol, simplesmente de nada. Aqui no nosso mundo Europeu condenamos o ataque e ficamos a espera não sei bem de quê! E eles que esperam lá amanhã...? E ainda nos queixamos, não sei bem de quê também...

quinta-feira, julho 27, 2006

Gente sem mente...

Como mosaicos espalhados pelo chão colados, agarrados mais fixados dos que os próprios pés na terra. Ideias ocas, de mentes vazias ecoam ao fundo de si, num gélido arrepio. Falam, gritam, esperneiam num avesso. Exaltam a voz, perdem a razão. Espalham ignorância pelo ar e riem em tom de troça, com a maior das certezas em assunto que não tem formação suficiente. E depois os outros calam, lamentam e no fundo é pena que se levanta.

quarta-feira, julho 26, 2006

Para dentro de mim...

Uma aquarela em tintas azuis, um dia em tons verdes. Um sorriso rasgado, vasto e grande. Um abraço que abarca mais do que tudo e mais do que nada. Sementes pelos pós mágicos de duendes caiem sobre o meu espaço. Devasto os lençóis e rasgo os membros. Flutuo na leveza dos sabores, entranho nos cheiros e afugento os perigos. Chego sem ser a horas marcadas, devasto o tempo, acalco o poder das regras, quebro a rotina e fujo para longe. Para tão longe que o mais perto é ir de novo para dentro de mim.

segunda-feira, julho 24, 2006

Muito Estranho...

Vi o Ricardo, não o via nem sei bem à quanto tempo...até pode parecer estranho ele é o meu vizinho da frente. Não fosse ele francês e seria estranho, agora assim a viver em país distante só o verão o retorna. E por vezes quando o retorna ando eu por outras paragens. Mas este ano o tempo resolveu juntar-nos e ele veio a tempo de estar ao mesmo tempo do que eu na rua. Olhei para ele e o Ricardo cresceu esta um homem...não era assim que eu me recordava dele. Será que também já eu estou uma mulher? Muito estranho.

terça-feira, julho 18, 2006

Coisas da Memória...

A memória por vezes falha-me, passo longo tempo, se não mesmo eternidades sem recordar-me de algo. Coisas que passam e que depois voltam a surgir quando menos espero. E quando voltam penso: como pude eu esquecer durante tanto tempo?
Enfim, hoje foi um desses dias, sem mais nem menos veio-me à cabeça aquele turbilhão de coisas boas que sentimos, como talvez dos melhores feitos que fizemos juntos. E prometemos a nós mesmos não esquecer esse dia, e afinal a azáfama dos dias o remeteu para só agora recordar . Eu sei que vocês se lembram, só que como eu devem não falar dele há muito. No entanto, não fosse ele tão importante e passaria mais uma vida ou duas sem o memorar. Então cá estávamos nós em amena cavaqueira, felicidade, alegria, amizade e por aí...O cenário era perfeito, verde sem conta, azul puro, cheiro de mar por todos os lados e boa disposição com sorrisos rasgados. Estávamos de veras encantados com os Açores. Andávamos na vontade desmedida de beber tudo num solvo...e nesse dia o programa há primeira vista em nada se assemelhava, aos longos banhos nas cascatas, aos mergulhos nas águas e à descoberta de vales encantados. Íamos nós para um lar de terceira idade e rodeados de mar por todos os lados. Chegamos e logo ali ficamos deslumbrados, dividimo-nos por tarefas e pisos, a mesma alegria de sempre, lá nos éramos a novidade. Enquanto uns iam descascar batatas para a cozinha, outros iam para os quartos, outros até estender roupa (sim não me esqueço Nuno foi das melhores visões que já tive até hoje). Prestar auxilio era a nossa missão, no entanto foram eles que nos prestaram sobretudo ao coração. De quarto para quarto, deixávamos os tabuleiros de comida sentados nas camas falávamos, e eles com gestos retribuíam. Comemos a melhor sardinhada de sempre, numa semana rica em arroz. Tiramos a barriga de misérias, mas sobretudo a alma. Quando me pediram para ir levar a comida aquele quarto, não esperava encontrar alguém assim. Entrei e pediu-me para lhe dar a sopa à boca, os meus olhos estavam espantados com olhos tão azuis e cristalinos, com um cabelo cor de prata e uma pele tão branca...mas estavam ainda mais espantados com a sua conversa. Foi sobretudo da solidão que ela nos falou, dos livros, da vida e dos afectos e ficamos ali sentados embasbacados como se só naquele tivéssemos percebido que há tanto por fazer. Sentimo-nos tão bem em estar a proporcionar um dia diferente a alguém, que foram estrelas que pairaram sobre a nossa cabeça. E a despedida essa foi dolorosa, sabíamos que não íamos regressar. E quando ela nos perguntou se amanhã voltaríamos outra vez, com uma esperança nos olhos. Foi um nó no estômago por saber que não voltaríamos, e com uma voz trémula dissemos que não. Lembro-me das palavras que proferimos quando saímos - Espectáculo ainda bem que viemos. Coisas úteis ao coração.

terça-feira, julho 11, 2006

Família feliz...

Ontem, andava não indecisão de comer ou não. Não se tratava de fome, nem de estômago farto. Era mais a hora que ditava a rotina dos dias, àquela hora todos provavelmente estariam a almoçar, ou já teriam terminado. Eu estava ainda a decidir.
Entre a busca positiva ou negativa da questão, uma família anunciava que estava oficialmente de férias. Não gritaram, mas nos meus ouvidos ecoou como se tivesse dito directamente para o meu cérebro. O carro familiar, pequeno, modesto, simples, sem grandes luxos, nem aparatos carregava uma auto tenda de duas rodas que ostentava está sim, todos os adereços para uma longa estadia. Sacos de cama, colchões, bancos, e a minha mente a imaginar o que estaria lá dentro, provavelmente eram pratos, talheres e uma casa mudada. No veículo apenas três pessoas, pai, mãe e filha. Os dois passageiros da frente encontravam-se literalmente a caminho do paraíso. Os tão ambicionados 15 dias de férias, num ano de trabalho e junto à praia. Já para passageira do banco de trás, que mal se via com tantos sacos ao lado, eram 15 dias de puro sofrimento. Não fosse o telemóvel e estaria totalmente perdida. Já não via a hora de estar a arrumar a tralha e toca a vir para cima. Nesta idade ir só com os “cotas” é uma tremenda seca. A viagem ainda era longa pela direcção que seguiam decidi que iriam para Monte Gordo, mas antes era tempo de alimentar. Nada mais prático do que parar nesse sítio da comida de plástico, uma coca-cola, um hambúrguer, batatas fritas e a economia do primeiro dia estava feita. O preço do combustível não dá para grandes luxos. Olhei bem para eles e eram felizes, tinham os anos programados, esperavam pelos 15 dias de férias, provavelmente já conheciam os vizinhos do parque de campismo de partilha ao longo dos anos, de manhã iam ao pão, vinham cedo da praia para assar o peixe, dormiam a sesta debaixo dos pinheiros, voltavam para a praia, voltavam para jantar e à noite saiam na calçada à beira mar. E não era preciso muito, apenas o que o dinheiro dava, era preciso sim que tivessem juntos e de férias.

segunda-feira, julho 10, 2006

Hoje

Hoje a luz entra com mais força por a minha janela ou serão os meus olhos que ainda estão na noite?

terça-feira, julho 04, 2006

Sal...

O doce, o amargo e o salgado fazem parte do paladar de qualquer um. No entanto, apenas uns os saboreiam plenamente. Se o doce é difícil de encontrar por estes dias, já o amargo cruza-se por nós em qualquer esquina. Tudo o que pica e sabe mal surge na mente, nas vistas e deleita-se pensado ignorantemente que para nós é algo de muito bom. Sabores amargos é o que por aí mais há e nascem quase sempre de pessoas desagradáveis, intragáveis e mesquinhas em todo o sentido da palavra. Bombons com recheio são raridades escassas, quase só na época das cerejeiras surgem caprichos que adocicam a boca. Eu guardo sempre caroços permanentes na minha existência, para açucararem os meus dias ao longo de todo o ano, autênticas relíquias, imprescindíveis, raras, mas que ainda existem.
Mas o salgado anda espalhado por ai, ao alcance de qualquer um e tão poucos o notam. Ignoram e retiram-no do corpo como se de uma doença contagiosa se tratasse. Sempre que posso entro em pedaços de NaCl e considero-o néctar para a pele, para a vida, e sobretudo para a essência dos dias. Nada me deixa mais leve, nada como ele me afasta nuvens escuras...nada me sabe tão bem. E quando chega nesse cenário de diversidade colorida, em que os actores são todos componentes puros, é ingrediente perfeito e nada me demolha tão plenamente. Fico ali a conservar, apenas o que de melhor existe nesse momento, silêncio absoluto. Deixa-me apta e entra-me por entre os poros e cada vez que os meus lábios o tocam, surge a melhor degustação paliativa. E fico em estado incontaminado. E quando adormeço com ele por os membros, pela mente e pela noite fico leve e flutuo uns centímetros acima dos lençóis. Se o amargo é indigesto e nojento, se o doce anda contado pelas palmas da mão já o salgado esse, abunda em estado líquido e que sorte nos dias que correm.

domingo, julho 02, 2006

RAP...

Sol quente, tão quente que os poros mal respiram. O mesmo caminho de sempre, aquele que me leva de regresso a casa. Não tenho por hábito dar boleias a desconhecidos, no entanto ali estava ele debaixo de temperaturas elevadas. Não era propriamente um desconhecido, conhecia-o de vista, o suficiente para saber que não me faria mal. Mas encostei, fez uma cara desesperadamente de alívio, aguçou ao olhar e acho que ficou feliz por me ver. Logo aí, nesse instante não me arrependi de ter parado. Sentou-se e perguntou-me se podia abrir o vidro, calor a mais. Poucas palavras, um constrangimento de quem não tem muito assunto, mais da minha parte do que da dele. A sua história de vida eu sabia, embora que vagamente. E imaginava também o que ele estava a fazer naquele lugar. Mas, mesmo assim, para quebrar o silêncio lá fiz a primeira pergunta – Então agora estas por cá? Não sei se era bem isto que queria dizer, mas foi o que saiu – Sim, aqui estou melhor. Sabes, reduzi a metadona para 17, no princípio do tratamento estava em 70. Senti-o confiante no seu feito e a mim senti-me sem saber bem porque metia eu embaraços. Ele encarava melhor a situação do que eu e ainda bem, sabia lidar com ela. Mais uns longos minutos de silêncio e eu a absorver tudo o que ele me estava a proporcionar, essas coisas que fazem crescer. Do nada um pássaro planou sob o vidro do carro, uma sensação de liberdade perfeita, reparei que os seus olhos viajaram com ele, tentei imaginar o que lhe estaria a passar em mente, mas achei que foi somente o que passou na minha, leveza sem limites. Perguntou-me o que eu fazia, e pela primeira vez apresentamo-nos formalmente. Acho que ele ganhou confiança, a suficiente para me perguntar se eu gostava de RAP. Levaria mais uns minutos e o som do carro era RAP francês. Naquele momento as barreiras estavam quebradas, a partilha de uma música aproxima qualquer um. O resto da viagem foi feito sob este ritmo. Reparei que ele estava tão empenhado em absorver os sons que decidi não interromper. Chegamos ao destino final. Saiu e pegou-me na mão com o agradecimento mais sentido que me proferiram até hoje, dei-lhe a cassete de RAP e ele perguntou-me: - Não queres ficar com ela para ouvires melhor, depois dás-me. Mas achei que ela lhe faria melhor a ele do que a mim. Hoje, voltei a encontra-lo e levava os phones nos ouvidos, por certo que era RAP o que ia a ouvir, de longe acenou-me e fez-me adeus e agradeci-me infinitamente por ter parado nesse dia.

terça-feira, junho 20, 2006

Sentir em estado puro...

Os que me conhecem sabem bem a paixão que tenho pelo sul, nomeadamente, pelo Alentejo. Aos que não me conhecem também rapidamente faço perceber esta minha perdição. Não sou apologista de qualquer tipo de fronteira, mas sou uma defensora das culturas regionais. Sim, nós somos diferentes, e é dessa diversidade que nasce o rico neste país pobre. Sempre me apercebi apenas das coisas ricas desta região dourada, com cheiro característico, que só quem a bebe sem ter sede dá conta. Sempre passei a mão pela terra e nada vi para além dela, sempre mergulhei na Costa Vicentina e apenas lhe reconheci o dom das melhores praias, sempre olhei para o céu numa noite quente de verão, com a sensação de ser mais estrelado aqui do que em qualquer outro lugar do mundo. E agora encontro aqui na minha terra de sonho real, senhores de poder, com cargos poderosos como eles. De gravata, de fatos, na terra dos camponeses, de BMW´S nas estradas rurais, em busca de um bem-querer desta terra desmedido que mais não serve para servir os seus interesses. E de peito aberto juram fazer por ela a estrada do desenvolvimento, mas em arrelias pisam-se uns aos outros. E jogos de interesses não combinam com ideais, não fazem paralelo com solos férteis, não ecoam nas vozes dos grupos corais e não sentem o vento na seara. Senhores de poder será que podiam sentir esta região em estado puro?

segunda-feira, junho 19, 2006

Carteira Profissional para rimar com oficial...

Há aqueles dias em que os dias são somente dias. Nada além do tempo que surge em demasia. E porém é nestes dias que a mente se encarrega de encher dessas coisas que momentos normais não lhe dão crédito. Adio sempre para pensar o que realmente me assusta para amanhã, ou quem sabe para depois, porém hoje não deu para adiar. Recebi a minha carteira profissional, é mais uma coisa que parece um cartão Multibanco, no entanto esse bocadinho de plástico reveste-se de poderes inacreditáveis. Olhei para ela e tive a sensação de já não haver volta a dar, tinha uma profissão. Olhei para ela e vi um misto de felicidade e desespero. Sempre me ocupei em fazer o que queria, mas sempre me ficaram em mente as coisas que poderia estar a deixar pelo nada com a minha opção.
Então, agora tenho pegado neste bocadinho de plástico com o meu nome gravado vezes sem conta e ainda não fui capaz de o retirar da mesa-de-cabeceira. Volta e meia subo as escadas e lá está ele a olhar para mim. Decidi então sentar-me a seu lado e ter conversa séria. Perguntei-lhe vezes sem conta se era mesmo para mim que queria vir, se tinha consciência que eu podia falhar ou simplesmente me desiludir. Voltei a verificar se o nome era mesmo o meu, mas a minha fotografia não engana, sou eu estampada a cores. Expliquei assim que corria o risco de ter sido editada em vão. Deixei bem presente e claro, todos os meus receios, na esperança de ela (carteira profissional) me dar respostas. E encontrei-as, mas mudas. Ela não se manifestou, mas resolvi percorrer este percurso como qualquer outro da vida, também não há muito a fazer.
No entanto, fizemos um pacto – convidei-me a ver o que ela de melhor têm para me dar, em troca, prometi fazer o que melhor sei. Afinal ela ainda não é definitiva. A ver vamos se nos entendemos.

quinta-feira, junho 15, 2006

Orgulho desmedido...

Durante toda uma vida ouvi falar dele, imagino sempre que tem as mãos grandes de ternura, as faces rosadas e um sorriso rasgado no rosto, como quem não se preocupa com as coisas mínimas da vida.
Na minha cabeça faço cumes de ideias e cada vez que vejo aquela curva não me deixo de arrepiar, numa vontade desmedida que ela jamais tivesse existido. E é estranho sentir saudades de alguém que nem conhecemos. E então ainda foi no outro dia, num fim de tarde perfeito, com aquele calor típico do verão, onde o sol ganha a sua plenitude e estatuto máximo no céu, que se viraram para mim num tom longínquo do tempo que não volta. – Sabes Bruna, o teu avô teria agora a minha idade? Depressa me captou a atenção esse meu amigo, com o triplo da minha idade, que me fez perceber o quanto custou a liberdade com histórias sem conta e uma vontade de viver inquieta.
Senti um nó no estômago, desejando que pudesse mesmo ser verdade e depressa me correram, como quem corre em auto-estradas palavras, essas que me dizem quando menos estou a espera e em que ele é sempre o assunto. – Grande amigo, dos melhores homens que conheci, coração do tamanho do mundo, para ele estava sempre tudo bem. São estas as frases que vou ouvindo de boca em boca e cada vez que as oiço surge uma leveza que me faz flutuar para longe, e é das poucas vezes que sinto orgulho em mim, por me associarem a ti avô.

sexta-feira, junho 09, 2006

Pais de Família...

Parece-me a mim que de um momento para o outro, todos são pais e mães de toda a gente. Se não veja-se aquando da decisão do supremo tribunal de justiça, que considerou que “fechar crianças em quartos é um castigo normal de ‘um bom pai de família’” e agora um padre director da casa do gaiato de Setúbal, que perante os jornalistas não hesitou em dar uma estalada a uma criança de seis anos. Mas este explicou, “Não lhe dei um estalo, bati-lhe com a mão para ele se ir embora”. Como não sendo suficiente o argumento católico, digo eu, fez-se mais claro e evocou as morais familiares: “Isto não foi um mau trato, foi um bom trato. Não me viu antes agarrá-lo ao colo, acariciá-lo e beijá-lo? Sabe quem faz isso? Um bom pai de família”.
Perante tal situação só posso dizer que os bons pais de família andam espalhados por este Portugal dos pequeninos e retrogada. E digo mais, vai chegar o dia em que o cinto de fivela vai voltar a sentar-se à mesa dos portugueses. Vamos regredir à boa e velha educação. E muitas mentes devem agora estar a pensar: Deus nos valha. Mas, ao menino e meninas, deste país não lhe tem válido de muito, mas talvez esta estalada vinda de mãos portadoras de fé tenha outro significado: A de vais fazer-te homem de barba rija, desprovido de sentimentos puros mas duro na queda. E beijarás a mão de quem te abençoa. Vergonhoso, digo eu.

quarta-feira, junho 07, 2006

Estrada/Berma...encontros do acaso

As estradas quase sempre não levam a lado nenhum, é mais a vontade de ir que corrompe o caminho. Porém há coisas nas estradas que nos despertam a atenção, vertigens que lhes quebra a aparência negra, salpicada por traços brancos – muitas vezes pensei mudar-lhe a tonalidade, mas cheguei à conclusão que preto é o mais apropriado, sujidade a mais para cores com vida – mas, devaneios à parte, sobre um calor quente e abrasador desses em que a estrada parece flutuar, onde eu já vou colada na nesga da mente, bem poderiam surgir choques frontais. No entanto, surge, no meio do nada, nessa hora onde todos recolhem por o sol escurecer em demasia a melanina esse ser vergado, com as pernas bambas de vir de longe. E ali na berma repousa nos seus 70 e picos anos (ou mais), à espera não sei bem de quê. Baixa aos olhos quando passam sofisticados animais de quatro rodas, poeira a mais pelo ar, vento a mais para a sua estrutura óssea. E ali espera em mangas de camisa, na árvore que por sorte acolhe sombra vasta. E qualquer dia paro e pergunto-lhe se quer uma boleia, só não sei bem para onde…

quarta-feira, maio 31, 2006

Lisboa abaixo, Lisboa acima...

Rua acima, rua abaixo. Esquerda, direita, um folgo de ar, uma batida. Duas pernas a andar e simplesmente um sorriso no lábios. Largo, rasgado, grande, enorme…Nessas ruelas estreitas, por entre paredes, por entre muralhas, aviões, carros, peões verdes e vermelhos. Confusão sim muita, mas eu gosto desse rumor nos ouvidos, não me fere a cartilagem. Nessa calçada cheia, repleta, nessa voz que me chama, que me aquece e me devolve sempre que necessário. Janelas e portadas altas, tudo alto, tudo no cimo. Pendurada em lençóis brancos por entre o corpo, descendo escadarias que arrefecem os pés. Desamarrota o céu, encaixa-o no rio e segue a rebolar por as colinas, em pé-coxinho e chinelos de dedo com terra nos calcanhares. E sobre os carris, sobre as caras de ninguém tu tens rosto, e eu conheço-o também.

domingo, maio 28, 2006

Porque afinal tu (tempo) não alteras nada....

Tempo para, não andes, fica mudo, imóvel, canta ou simplesmente que tu te danes.
Foi isto que me apeteceu dizer-lhe a esse senhor que faz as horas andar, que faz as coisas gastarem-se, que faz as coisas terminarem. Maldito tempo, despejar toda a minha raiva nesse impositor, nesse ditador. E depois pensei por mais voltas que dês não me encerras e não me irritas. Gira em ponteiros que é só mesmo o que sabes fazer. Eu cá giro em torno de coisas, em pedaços de material puro, em sorrisos e olhares brilhantes. E o tempo pode ter sido curto, dias, anos não chegariam…mas chegaram-me os vossos abraços, chegou a cumplicidade, as gargalhadas que fazem amarrotar a barriga, essas coisas intermináveis que nunca mudam…e já fazia muito tempo que não nos víamos, o que so prova que ele (tempo) não altera mesmo nada, porque há momentos, que são vidas.

segunda-feira, maio 22, 2006

Coisas simples...

Andei a vaguear por aí perto de nada e perto de tudo. Andei em círculos e em rectas, andei somente nesse espaço. Peguei nas mãos e metias nos bolsos como quem não tem nada que fazer, peguei nas pernas e fiz com que andassem. Um, dois, três...não carneiros, são caroços que enchem a boca. São nêsperas amarelas, nessa minha cor de infância que era pirosa, até então e que agora esta na moda. Os lábios molhados e em redor da boca somente desliza esse sumo que cola e que me reporta para aí dez anos atrás, doze os que queiram façam é de mim criança (e como era bom, imaginem muito tempo se quiserem eu não me importo). Enfim tudo isto para dizer que ainda não aprendi a comer sem me sujar, tarefa quase impossível na minha diária. Adiante há dias em que não acontece nada de especial, mas digo-vos este sabor na boca, esta falta de formalidade tem sabor... o gosto dos dias, pequenos prazeres que fazem dias cheios (e gosto mais disto do que ouvir mentes vazias).

quinta-feira, maio 18, 2006

Apenas uma questão ergonómica...

Sempre se quer mudar alguma coisa, que mais não seja a mesa de sítio, o quadro de parede e os sapatos de lugar. Sempre se quer, porém apenas coisas simples, coisas banais que não incluam grande esforço mental e que não alterem muito a rotina de seres comodistas, que receiam a mudança. Querem mudar-se assim, essas coisas fáceis que não criem conflitos , que não acabem por ser um problema, quando o problema consiste mesmo no deixa andar...Mas por cá tudo bem e tudo ao contrário. Criticas muitas, alternativas poucas, movimentos escassos, soluções nulas, vontade inexistente. Agir é melhor então nem pensar nisso. Então no país das maravilhas vamos mudando os móveis, vamos trocando de carro e lamentando. Porque aqui as coisas até são prováveis que caiam do céu. Porque mudar queremos, falta é a vontade, o tempo e essas coisas que nos retiram horas de café, de sono e afins. Mas tudo bem, talvez seja melhor pensar se a cama não ficaria melhor ao contrário, não é por nada em especial, apenas por uma questão ergonómica, porque assim até parecemos inovadores.

segunda-feira, maio 15, 2006

Intensidade Momentânea

Hoje apenas assino saudades...
Escassamente para que não aumentem.

quinta-feira, maio 11, 2006

Pensamento

A sensatez nem sempre é sensata para quem a pratica, cheguei a essa conclusão hoje. Sim, pode ser o mais correcto, mas nem sempre o correcto é o que realmente se quer fazer. Sensatez, insensata portanto.

Descrição I

Uma arcada, uma janela com vidros fuscos, duas ventoinhas respiratórias, tudo artificial portanto, mas eis que se abre a janela de portadas pequenas, um rectângulo e somente verde...barulho dos pássaros e um ponto rosa... é uma flor. Digo-vos que até as ventoinhas já nem parecem tão feias assim.

quarta-feira, maio 10, 2006

Coisas relativas...

Ele há coisas relativas, coisas que pesadas na balança dos dias dão apenas uma e por vezes nenhuma.
Ontem ao subir a rua, essa de calçada larga ia a pensar o quanto custa a satisfação plena. O quão difícil é o contentamento humano, digo-vos mesmo que por vezes preferia ser bicho (sei que já o sou). Então cá ia eu e o dia normal como sempre, nada de grave, nada de preocupação, nada de perda, somente o dia, ainda assim parecia faltar alguma coisa. Irritada com esta falha, que não me fazia desfrutar e a pensar quanta gente estaria a passar por mim, com motivos reais para estar enfadado e a odiar o poder estúpido da minha mente. E eu tudo bem e tudo mal. Continuei mais um pouco e acho que a cabeça já estava longe, acho que mais perto de coisa nenhuma. Já nem a pensar estava, e eis que oiço uma voz, daquelas transparentes e genuínas. Menina, dá-me um cigarro? E eu imóvel pela melodia que saia dos seus lábios – Não fumo! E ele - Melhor assim! Era alegria que saia dos seus olhos, era vida, eram notas de sol e era mendigo.
Ele há coisas muito relativas.

sexta-feira, maio 05, 2006

A melhor notícia do mundo...

Cheguei um pouco atrasada, mas soubesse eu e teria corrido só para ter sabido mais cedo. Há anos que ando a esperar eu e mais uns milhares, há uns anos que nos tinham tentado retirar a alma ou a fonte de desenvolvimento, mas em vão, ninguém apaga o intrínseco o crescer, viver e por aí. No entanto, só quem sente apego pode perceber o que tento dizer, só quem sabe o que é o cheiro do minério misturado como o do campo, percebe o significado destes sorrisos rasgados.
Não sou do tempo áureo desse porto de modernismo e avanço do País, mas sou do tempo de laboração, e é q.b. para saber como era e com é.
Todos os dias atravessava esse bairro pela mão, com um chapéu na cabeça, dava passos grandes, demasiado até para o meu tamanho, para poder acompanhar e chegar a horas de entregar a cesta de verga, com o pano aos quadros que embrulhava a marmita para não arrefecer. Atravessava a gruta que dava acesso ao outro lado, lá dentro uma escuridão e depois um monte de homens com as caras tisnadas e luzes na cabeça.
Era num folgo que corríamos para ver o elevador descer para o centro da terra e ali ficávamos parados agarrados aos ferros, a ver o quão fundo ia. Eram os vagões o nosso melhor esconderijo e motivo de piqueniques, pedras de minério que brilhavam ao sol pesavam nas mochilas ao regressar para casa. A terra das rochas o melhor cimento para esculturas, desenhos e brincar aos adultos. A água forte o nosso maior receio, diziam que quem caísse para lá já mais voltaria a vir, contornávamos essas lagoas de água castanha, vermelha mandando pedaços de coisas para ver o que acontecia...Só mais tarde percebi que só com o tempo corroía.
É por todos estes motivos e mais alguns, por amor sim no sentido mais puro, que hoje os sorrisos me escorrem, que os olhos brilham e se enchem de pedaços de sal. A desconfiança é algo a que nos habituamos, mas hoje parece ser mesmo a sério e a notícia ecoa de boca em boca, e cada vez que alguém me encontra tão feliz e alegre no seu entusiasmado como eu, me diz: Já Sabes, a mina vai reabrir! E são pedaços de coisas genuínas, enrolados no desejo de voltar a ver a azafama e raiz cultural de um povo a renascer, que me faz hoje ancorar as melhores coisas que se possam imaginar no músculo. Hoje não vos sei explicar só mesmo sentir...

quarta-feira, maio 03, 2006

1+1+1+1+1......=.....

Somos mais do que a conta, as vezes penso até que somos mais que o possível. Grãos de sal, de areia, de açúcar e de tudo o que escapule por entre os dedos. Coisas incontáveis, com resultados infinitos...onde o número não cabe no visor electrónico da máquina de calcular (essa que pensa por nós, essa que nos desapega de qualquer raciocínio). Não consigo quantificar, por isso parece-me muito, uma mão cheia de coisas de um novelo enrolado em mil voltas, e de bolas de sabão pelo ar, qualquer coisa que supere os números. Somos os que somos e ainda bem que são tantos ou tão poucos (depende da visão, opinião e imaginação) e que se junte quem vier por bem...

segunda-feira, abril 24, 2006

Sabes a que sabe a vida?


Em pequenos passos de abrir olhos, e despertar para bocas famintas de ar.
Em retalhos de deslizes de mãos que querem tocar o sol (sim ele arde), mas o voo do limite é sempre o mais desejado e ele nunca arrefece, como quem se perde sem saber viver. Eu sei que ele queima as faces, mas é num sopro que se alivia. Esse ar frio do vento que roda em círculos como se fosse um vinil e que marca em batutas, passos gigantes de homens, grandes e pequenos de tamanho S e XL...
Desabrochar cada minuto como se em folhas de clorofila escorre-se sabedoria e se escrevesse da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda, tanto faz. Verde a perder de vista, azul a afundar-me em poças de água, que fazem mais por mim do que qualquer sapato de verniz. Ter a língua a saber a cerejas, morangos, ameixas desse vermelho maça. Enrolo o cabelo em novelos, sem pressa do tempo, tiro a corda ao relógio e soletro pedaços de coisas genuínas, de risadas, de conversas com nexo e sem sentido, de abraços apertados, de vozes cúmplices, de simplicidade, de pessoas que são bandeiras na minha existência, de tempo que não corre. A Vida despe-se e é nudista, é sabe a sal misturado como açúcar. Sem coalho nem filtro, sabe no seu estado liquido, com impurezas e sabe a calor daquele que transpira da pele. A vida sabe ao que sabe...e cada um lá sabe ao que lhe sabe.

quarta-feira, abril 19, 2006

Oiço Violinos no Telhado...

Sabes o que estou a ouvir?
E eu – não! O que é?
A banda sonora de um filme que vi ao teu lado. Violinos no telhado.
Estrelinhas que tocam em notas de sol, telhas partidas e musgo entre as sílabas das melodias.
Nas mesas brancas, com as pernas azuis sentamo-nos como sempre em cima do tampo. Olhámos pela película numa parede. E entre essas paredes brancas ali ficávamos horas, mais por obrigação do que por outra coisa, mas nesse dia tivemos de vontade. E se pudesse recuava a todos eles e juro-te que deixavam de ser uma obrigação, e queria apenas o simples facto de te ter por perto. Hoje ainda oiço violinos no telhado cada vez que me recordo de ti...amigo:)

terça-feira, abril 18, 2006

Procura-se Comprador...

Diz-me lá quanto custa essa moeda? Quantos dedos a fazem rolar sem a ela pertencerem. Diz-me lá qual é o teu preço, desse valor material sem beleza de frustração de ódios.
Diz-me se te vendes por tão pouco, por um bocado de lata e olhos radiantes de ambição. Eu dou-te bocados de maçãs puras, gotas de águas de sal, asas de pássaros, bocados de terra e odores em cordel, mas creio que será pouco para ti, os teus pés querem antes papel com caras de homens e símbolos da união europeia vincados, querem antes vertigens de apegos monetários sem gozo. Vive antes nessa vida faz-de-conta, e já não há bolas de sabão que te lavem, tens as mãos sujas e a pele a cheirar a esse bafo do níquel sujo e moribundo que provoca a discórdia.
Diz-me quanto custas, que eu não te compro.

segunda-feira, abril 17, 2006

?

Como se tiram nuvens que toldam da mente e do músculo?

sábado, abril 15, 2006

Só por o mundo ser redondo...

Porque a Páscoa afinal têm crentes ou des(crentes)…e utilidade.
Porque estes fins-de-semana prolongados dizem acabar com a economia do País (mas muito pior também já não pode ficar), mas aumentam a auto-estima.
Por me saber muito bem esta utilidade de Páscoa, de mini férias (a única que lhe reconheço)
Porque o mundo gira e é redondo vou dar uma volta…(só mesmo por isso).

quinta-feira, abril 13, 2006

Justiça?

Ando a tisnar os dedos, ando com os olhos pregados em letras pequeninas e pretas. Ando à procura das gordas, neste hábito diário. Ultimamente os assuntos não tem variado muito...eleições em Itália, revolta francesa, Angola país que de momento parecem ter feito renascer das cinzas, (a mim a questão cultural daquele povo e as condições do mesmo interessa-me mais, sou sincera)...mas o tempo tem sido de mudança e isso agrada-me e muito. Não sou uma revolucionária não tenho capacidade nem disposição de liderança, gosto mais de me liderar a mim mesma. Ainda assim tenho opinião e ela vale apenas o que vale.
Mas nestes dias li algo que me transcendeu, algo que me fez recuar nos neurónios, colocar os óculos para ver se estava mesmo a ler o correcto: "(...) o Supremo Tribunal de Justiça (...) alegou que fechar crianças em quartos é um castigo normal de “um bom pai de família”, defendendo que estaladas e palmadas, se não forem dadas, até podem configurar “negligência educacional”.
E depois o pior estas crianças tinham deficiências mentais e estavam num lar em Setúbal. Recuei novamente na leitura incrédula, mas depois pensei melhor e analisei o estado da justiça em Portugal...então soltam-se corruptos, elegem-se de novo presidentes que fogem para o Brasil e pensei se tivéssemos noutro País isto era muito grave, mas em Portugal isto até passa despercebido, ou não!
É caso para dizer que o Supremo Tribunal de Justiça anda muito mal informado acerca das práticas da educação, se isto é aceitável todo o resto se pode esperar, já agora seria oportuno que se consultassem os especialistas nesta matéria à cerca da teoria científica sobre o tema, talvez eles consigam esclarecer melhor, talvez eles sejam mais entendidos digo eu, mas isto é só a minha opinião e ela vale o que vale como já tinha dito.

sexta-feira, abril 07, 2006

3

No outro dia numa conversa a três, dizem que é número perfeito, no momento arrisco mesmo a dizer que o foi. Não seriam necessárias mais vozes em debate uma vez que o assunto também parece andar esgotado. Mas ainda assim, continuamos a prosa, falatório, troca de ideias, troca de palavras numa de tantas voltas dadas por ruas e ruelas onde o movimento parece distrair no mesmo local de sempre.
E então porque a tarde ainda parecia grande, embora tivesse no fim, porque o apetite de ir para casa também não era nenhum, à falta de programa fomos dar uma volta.
Então as silabas saíram basicamente em torno da “falta de sorte” e não nos estávamos a referir ao azar de não ganhar o Euromilhões, isso parece ser factor consumado. Foi mais em torno da vida se esgotar, e ter uma pista de obstáculos a fazer o tempo correr sem proveito. As coisas pareciam ter um peso amanhã, maior ainda do que naquele dia...Parecem ser essas coisas que esmifram os dias e então não há melhor sinónimo e desculpa do que: “Eu não tenho sorte nenhuma”, então 3 mentes chateadas encaram isto de uma forma veloz. E todas as palavras que saem revestem-se de um pessimismo terrível, capaz de provocar suicídios no mais feliz dos mortais. Sim porque se alguém estava com o espirito embaixo a conversa era mais uma ferroada que causava não só comichão como arrepios. E depois as interpretações eram diferentes, já se sabe cada cabeça sua sentença, variam na intensidade de que cada momento mau nos provoca, a uns mais do que outros. Mas eu acho hoje, que ainda somos capazes de encontrar os requisitos mínimos para essa “falta de sorte”, ainda pudemos colocar as pedras no charco sem nos molharmos, naquele dia não dava a mente em dias assim não pensa! Acho que temos vontades e forças anímicas para ficar com a cereja em cima do bolo! Não me contento com as migalhas no prato, quero mais, e acredito que é possível, e mesmo quando isso implicar quebras no coração não desisto, mesmo que a vida nos pregue partidas foleiras sem piada, onde só ela se ri. E eu que sou agnóstica, afinal acredito em alguma coisa, acredito na possibilidade de sorrir... na minha e na vossa.

quarta-feira, abril 05, 2006

Sintomas...

Acabei por descobrir alguns sinais da palavra saudade, sempre tentei perceber se o que sentia era saudade ou uma bandeira de fazes-me falta...Sempre tentei distinguir, diferenciar estas duas linhas embora que ténues. A imobilidade de estar em vários sítios ao mesmo tempo, a vontade de querer e não poder levou-me a meditar sobre a frase que não me saiu da cabeça, ecoando a razão para tais picadas no músculo do sentir: “o melhor da vida é o que não há-de vir”. Não me identifico com o espírito português do tenebroso sentimento das saudades. Mas este frio que me passa pelo cérebro só pode significar que ando com sintomas de lembranças regadas por desejos. Cada vez que este invasor me ataca, sempre me parece que coisa boa não há-de vir! São sempre significado de medo, receio, uma perda num buraco vazio e oco. Não fosse isto verdade e não andaria a ver o Tiago pela televisão...foi esta a minha principal causa. A dar por mim a pensar: Deixa lá ver como anda o Tiago? Deixa lá assistir a novela. Cheguei a conclusão que o meu problema é grave!
E depois penso no Tiago e começam a vir uma série de nomes atrás dos quais sinto saudade, falta como lhe queiram chamar...E o telefone esse aparelho de mil utilidades não anda a resultar para mim, os sintomas não se desvanecem através dele.
Mas acabei de encontrar o medicamento para o meu tratamento: Chama-se Lisboa! Tomo durante uma semana, fim de semana e curo-me.

quarta-feira, março 29, 2006

Ervas daninhas...

As ervas daninhas andam espalhadas na estação típica que as faz reflorescer, crescem entre as pedras brancas e cinzentas da calçada. Cubos delineados de verde, sapatos escorregam como que em cascas de bananas. Mas não são só as pernas que caem, e não é só o soalho que as acolhe. Andam por aí entranhadas em corpos compactos que deixam procriar musgo nas juntas do ser. Entre os ossos crescem como sinal de abandono, e espadem-se por o espaço vazio onde apenas músculos mantém a manutenção de alguém que possui cabeça, troco e membros, mas que não habita este espaço estrutural. E a massa encefálica acolhe as sementes e com a humidade dos dias frios da mente produzem-se e alastram-se. Corpos adiposos, corpos esguios, tudo com boas condições climatéricas capazes de fazer a germinação. Cedem, descuidam-se elas crescem e não há pesticida que as mate.
Imagem: retirada da internet

segunda-feira, março 27, 2006

uma hora a menos, uma hora a mais...

A mudança da hora sempre mete os ponteiros do corpo ao contrário. Sempre me transporta em segundos lentos, em adaptações estranhas que o organismo não se habitua facilmente. Dá-me a sensação de dormir cedo de mais e acordar quando ainda é inadmissível abrir os olhos. Depois andar uma hora para trás de inverno e uma para a frente de verão, só pode causar uma sensação de regresso ao passado e regresso ao futuro. Os movimentos hoje andam tardios, as ideias andam penduradas no tempo e o relógio ainda esta na hora antiga. Falta-me paciência para acertar um novo hábito ao qual o corpo ainda não responde. Os cafés andam a remediar esta disfunção cerebral, andam a fazer a ponte de ligação. E o estômago esse sempre lhe parece demasiado cedo para encher. E agora aqui vou eu almoçar mas apenas porque o horário diz que sim.

quarta-feira, março 22, 2006

Pensamento do dia...

...Ando a pensar, sem pensar muito no que penso...

Acho que foi este o pensamento do meu dia de hoje!

terça-feira, março 21, 2006

OPA'S

Há algo que me anda a fazer uma tremenda confusão, algo que faz fervilhar regos de veias sem direcção que dão estalos no cérebro. E então lá tento encontrar uma justificação, para tantas diferenças de bolsos, de carteiras ou como lhe queiram chamar. Resumidamente a acentuada discrepância entre o rico e o pobre. Há uns anos que oiço dizer que os portugueses tem de apertar o cinto, e eu ando com ele no último furo. Ando a fazer ginástica, a esticar, a dar várias utilidades de maneira proveitosa, a inventar fundos a guardar os trocos de 5 cêntimos, de 1 cêntimo enfim...a fazer o que a população anda a fazer em geral. Mas depois ligo a televisão, ligo o rádio e a mente e nos ouvidos ecoam OPA'S...acho que muitos ainda não perceberam o significado disto...então não são mais que ofertas públicas de aquisição. E depois pergunto então mas nós não andamos pobres? não andamos em aperto ou são apenas alguns?...Ainda temos condições de fazer OPA'S, derrepente tudo quer adquirir tudo...Portugal o país que não corresponde ao nível da união europeia...mas em grande escala de vamos comprar-nos uns aos outros...! E eu a pensar...afinal qual é a nossa situação? Assim até parece que somos grandes (ricos, desenvolvidos)...e depois seguem as notícias...o desemprego despara, o endividamento das famílias aumenta, as dívidas ao fisco sobem, o consumir bens hoje mais parece uma relíquia , pagamos portagem...e depois penso, não afinal está tudo na mesma...ainda acordei em Portugal...

P.S - e eu adoro este País não suporto é o que fazem com ele...

Cartoon de Luís Afonso....brilhante como sempre e ilustra bem a situação...

quinta-feira, março 09, 2006

Passatempo, actividade da mente...imaginário!

Há por ai muitas vidas que me interessam...muitas mesmo. Todos os dias desço e subo essa calçada, daquelas que os saltos altos detestam e que quando ando com sapatos sem altura me desfaço em agilidade. Enfim essa mesma calçada conduz-me sempre ao mesmo local, mas nem queiram saber a diversidade que ela contém. É povoada por seres que o meu imaginário tenta decifrar, sempre tive este passatempo de tentar adivinhar, supor, alegar hipóteses, presumir, conjecturar e todos esses adjectivos possíveis que definem a minha actividade cerebral de tentar perceber o que fazem e como são cada um destes seres da calçada. A mulher de verde, nome que lhe atribui bem poderia ter o nome de Teresa. Monetariamente parece não apresentar qualquer problema visto o carro que ostenta, parece ser segura de si e uma mãe de família daquelas que deixa os filhos no colégio antes de vir para o trabalho. Daquelas que não se preocupa com o almoço porque o marido não almoça em casa, os filhos comem no refeitório da escola e ela come uma sopa para manter a linha, no mesmo restaurante de há anos. O homem do casaco de pele, passado de moda há anos, com uns óculos que não o favorecem é o típico chefe de família que passa férias em Quarteira, imagino que seja aferidor de balanças ou algo do género. A mulher cusca nome apropriado para quem tem pinta de vizinha que sabe todas as novidades do bairro. Que se desfaz em simpatias e em seguida roga pragas. Daquelas simpatias hipócritas como lhe costumo chamar. E o Joaquim (nome artístico da minha mente), homem porreiro para beber uns copos, para petiscar, para rir...o típico acolhedor que faz os turista apreciar a simplicidade e levar recordações de boa gente! Tem cara de oferecer vinho tinto, chouriços e iguarias da região. Mas nesta rua estreita há algo que me transcede nesta rotina matinal. O homem da carrinha cinzenta, nunca o vi em actividade, nunca o vi para além da cintura encontra-se sempre no mesmo sítio dentro do automóvel de mercadorias , e entre o vidro vejo o bigode e pouco mais... parece aguardar eternidades. De manhã já lá está, a hora do almoço lá está....então pensei deve esperar por alguém que trabalha por aqui...mas depressa se me desfez essa hipótese. É que ele passa ali horas em excesso...em demasia para esperar...podia ir beber café, sair do mesmo local de sempre, ir dar uma volta e depois regressar mas não...só me faz pensar será que o homem da carrinha é espião?

quarta-feira, março 08, 2006

Inutilidade...

Desculpem-me os metódicos, os organizados, os que tem post-its amarelos pela secretária, pela mente e pela vida. Desculpem-me mas não consigo seguir uma rotina, não consigo planear o meu dia, não encontro espaço para a arrumação das minhas horas. Decidi então deixar de tentar dar utilidade a uma agenda...sempre me pareceu adulto querer ter um caderninho que me alertasse para tudo o que é essencial, eu juro que o comprei vezes sem conta...que nos primeiros dias me esforcei para escrever o que não me esquecia de ter de fazer, mas insistia para ter a sensação de ter uma vida repleta de actividade...mas decididamente agendas não são para mim...! Tinha a sensação de estar a escrever para mostrar aos outros: - olha repara hoje não tenho tempo, amanhã ainda pior e depois nem queiras saber...compromissos e mais compromissos...e afinal no bloco de argolas até parece muita coisa e afinal depois quantificado é apenas a vida normal...trabalho, exposições, cinema, família, desporto, sair com os amigos e essas coisas úteis dos dias...Cheguei a conclusão que agendas apenas servem para tentar vislumbrar a mente dos que precisam de se lembrar que têm uma vida...e depois alguns de vocês podem estar a pensar: - Isso talvez sejas tu que tens poucas coisas para fazer, então é fácil lembrares...pois eu digo tenho muitas mas são tão intrínsecas que é impossível me esquecer de viver e do que me faz viver...mas pronto para quem gosta de agendas eu tenho é boa memória ok!

segunda-feira, março 06, 2006

Fragmentos...

Há muito tempo ou não há tempo assim, afinal o espaço sempre parece longínquo quantificado em datas mas curto em vivências. Andava eu não ideia de ser publicitária mas sem saber ao certo a vocação. Acho que ainda hoje não sei, é que a dúvida sempre me suscita, certezas é algo que não permanece em mim. Pode ser defeito eu digo mais que é feitio mas as opiniões são dispares por isso aceito qualquer adjectivo. Enfim na faculdade propuseram a leitura de um livro intitulado: “Cartas a um Jovem Jornalista”, inconscientemente vi-me tentada a ler. Acho que o bichinho já estava criado mas a minha mente tinha ainda outro intuito que era a aclamada criatividade da Publicidade. Levei umas horas a ler, sublinhei voltei a ler vezes sem conta afinal eu tinha a hipótese de ir para Jornalismo. Televisão não me suscitava qualquer tipo de interesse considerava-a um debitar de conteúdos sem interesse. Rádio, fazia-me associar a grandes vozes, a minha passa despercebida num grupo de dez pessoas quanto mais em milhares, só o sotaque do sul me distingue e isso fora do meu habitat. Mas jornais, esses sempre me tisnaram os dedos, a escrita sempre me perseguiu em blocos de notas, em folhas rasgadas enfim várias vezes em mente. E eis que o livro me mostrava agora o tempo do jornalismo, e percebi que os diários tem o ciclo de vida de um dia. O autor dizia que jornais velhos servem para limpar as pingas da tinta no soalho, para enrolar copos nas mudanças, para atiar o fogo… já ninguém quer ler notícias de ontem! Hoje tive essa prova, sai da redacção para ir fazer uma reportagem, cheguei ao local e mesmo diante os meus olhos uma parede branca coberta de jornais desmembrados em folhas soltas misturados por os vários títulos nacionais serviam de decoração do evento…Olhei mais a fundo e começo a ver bocados de notícias escritas por mim, essas mesmas linhas que me tiraram o sono, que troquei mil vezes as palavra em procura de um melhor significado pregadas aos pedaços num mural, sem nexo, sem sentido, a servirem de papel de parede…Só um sorriso me brotou na face, confirmei o livro que me tinha feito pensar no jornalismo, pensei no que fazia e deu-me gosto fazê-lo, afinal não é o tempo que conta mas a intensidade do momento…e depois quando percorro os arquivos dos jornais e leio notícias de épocas muito anteriores percebo que me fazem rever o passado melhor do que qualquer história! E acreditem que há por aí autênticas relíquias em arquivos, afinal ainda há lugares que perpetuam as notícias de hoje que para alguns já são velhas amanhã…mas é isso que faz a essência…Que hajam muitas mais notícias velhas todos os dias, para que possa dar muitas mais novas todas os outros dias que faltam percorrer…

domingo, fevereiro 19, 2006

Walk away...

As despedidas sempre trazem vincadas essas palavras torduosas que se incita ao adeus...
A esse adeus de ausência, não sei se de perda...Sinto pedaços a cair, a rolar por entre o vazio que espreita as fendas do corpo. Sinto mistos, meios de nadas, metades de tudo e no fim apenas essa curva do coração que palpita.
E em baixinho, em silêncio repito sílabas, repito, volto a repetir para que eu oiça. E continuo a enxergar de frente desse olhar que não dobra. E esse som outra vez que me lembra, que me recorda não de mim, antes o fosse é que as vezes é preciso ir para longe...


"and its so hard to do, and so easy to say ,but sometimes ....sometimes... you just have to walk away.... walk away... and head for the door you just walk away.... walk away.... walk away...just walk on... walk on... turn and head for the door....walk away"


Foto By E.M...

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Porque isto é um Blog...falemos de Blog´s...

Andei a vaguear por os blog's, cheguei a conclusão que a comunicação ganhou uma nova dimensão. Quando optei por deixar o papel (falso testemunho porque gosto do seu cheiro, da sua simplicidade e porque normalmente é o que tenho sempre a mão perto de uma caneta), mas adiante os blog´s dão-me hoje as novidades dos meus conhecidos, dos meus amigos e até dos meus desconhecidos. Reparei então que as cartas do correio, dessas que se esperavam anciosamente contendo pedaços de alguêm já não chegam mais. Cartas hoje apenas trazem contas para pagar. A intimidade o secretismo são hoje públicos, para mim q.b mas há por ai quem anuncie a sua vida neste novo espaço físico, nesta nova dimensão, nestes cartuxos diários de novas ideias e atitudes. Mas o rotina entrou-me vincada no corpo, sinto a necessidade de vos ler, de saber de vocês e de quem não conheço mas reconheço engenho. E então quando andava a visitar um blog eis o meu espanto quando reparei que há uma nova dimensão a chegar. Passo a citar: "Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Admito que me assustei, espanto, interrogação...e dei por mim a pensar que não era isto que eu pretendia de um blog...derrepente vejo as pessoas a comunicar mais aqui do que na mesa de café com os amigos...na sala de estar, nos corredores do trabalho...enfim locais onde a voz ainda ecoa...Ainda assim percebi a curiosidade que as mentes suscitam...é normal que aqui se revele o que os olhos nunca enxergaram...e quando reparei já eu tinha respondido a um questionário do tipo...mesmo no post anterior a este...É caso para dizer que os blog's contagiam...dou por mim a pensar, há por ai quem não tenha um blog?
P.S- Acabaram os questionários...resolvi tomar esta atitude para que os blog´s não passem a ser todos iguais em que eu descubro o que outros gostam de fazer e (blá blá blá)...isto é apenas um apelo as mentes...um apelo a criatividade...um apelo ao interesse...

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Resposta as Questões....

Bem cá estou eu a responder ao desafio…colocam-me a pensar nisto e depois não sou capaz de quebrar essa vossa corrente…mas fique ciente que não foi uma obrigação mas sim um enorme prazer que me curvou os olhos


Quatro locais onde vivi:
1 - Bairro dos Eucaliptos…nessa localidade mais que perfeita
2- Nos Olivais…ano explendido até por motivos inacreditáveis
3- Em arroios…bons tempos
4- Nos anjos…não gostavamos muito de variar a zona descemos só um pouco a avenida

Quatro sítios em que já fui empregada:

1- Naqueles trabalhos para adolescentes, do IPJ…entre os vários recordo o Museu de Ervidel
2- Na permufaria da minha mãe…
3- Na loja da bruna não é minha fique claro
4- No Diário do Alentejo….actual…

Quatro filmes que poderia ver vezes sem conta (sessão contínua):

1- O clube dos poetas mortos… um hino à vida…
2-Cinema paraíso…composição perfeita, melodia, personagens, história
3-Forest Gamp…o melhor entre os melhores
4-A vida é Bela…porque não é preciso dizer mais
5-21 Gramas…porque no cinema ainda se fazem bons filmes.

Quatro séries televisivas que permanecem na minha cabeça:

1-Bocas…infância
2-Sexo e a cidade…por ser genial
3-Friends…porque me arranca sempre um sorriso
4-Seinfeld…o melhor dos humores…sem riso fácil..

Quatro sítios que visitei em Férias:

1-Açores…uma das maravilhas deste País a beira mar plantado
2-Barcelona…a cidade perfeita…pela vida, pelo quotidiano, pela arquitectura…por tudo
3-O malhão pelo prazer de sempre…a melhor praia do mundo
4- não consigo escolher outro por serem todos demasiado importantes...

Quatro sites que visito diariamente:

1- Blog’s…rotina
2- jornais…vicio
3- os site do meu trabalho…gosto e necessidade
4 -O google…o melhor ajudante virtual…

Quatro comidas que me fazem água na boca:

1-Puré de batata c esses bifes que so a minha avó sabe fazer…
2-Mariscos…bixinhos do mar
3-Peixe…uma relíquia a face da terra
4-gelados…por recordarem sempre o verão

Quatro lugares onde estaria agora:

1-Barcelona…
2-Peru…
3-Tailândia…
4-e depois percorria o resto do mundo se possível…

Quatro álbuns que "ficaram":

1-Trovante – “uma noite só” da melhor música que já se fez em Portugal
2-Ben Harper…Fight For Your Mind…presente em muitos dias nessas muitas fases da vida
3-Jack Johnson…On And On…pela tranquilidade
4-Coldplay…vários…
5-E muitos mais…

Não passo a nínguem em especial...fica para quem quiser responder...isto foi um excepção...

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

A propósito dos Fundamentalismos...

Não receei nunca a invasão dos fundamentalistas acreditei sempre nas palavras da democracia. A distância a que essas nações se encontravam de mim faziam o meu canto seguro. O estalar da mentalidade de lá sempre me fez confusão, mas sempre me mereceu respeito. Cada um com as suas crenças, ainda assim o exagero desses Fundamentalismos fazem enrugar-me a mente, como que a criar rugas nos poros. Guerras Santas em nome de Deus, desse mesmo Deus dos crentes, feliz de quem acredita em alguma coisa, eu não me converto mas respeito. Não sei é em que parte da Bíblia, do Corão se incita a violência. Não acredito que esse vosso Deus se encontre por isso contente. E quando hoje vejo armas apontadas a cartoonistas, bandeiras dinamarquesas a serem espezinhadas dou por mim a pensar que afinal esses fundamentalistas não estão assim tão distantes. Não acredito que não houvesse a intenção de provocar esse povo fundamentalista, aliás a discórdia reside sempre na maioria das mentes. É que é fácil atiçar o rastilho da pólvora. Há sociedades que estão preparadas para receber essas críticas, há outras que ainda perduram agarradas aos tempos...E ao recordar o tempo, apesar da polémica não houve guerra por se colocar um preservativo no nariz do Papá, mas é que Muhammed ainda preenche outro estatuto no mundo árabe. Ainda assim, há uma coisa que não abdico incondicionalmente - O direito à liberdade de expressão, desculpem-me os fundamentalistas mas os valores da democracia ecoa-me mais alto. Não prescindo jamais da liberdade, inclusive da de imprensa. Embora pense que há coisas neste nosso mundo, onde a fogueira esta sempre pronta a atiçar, que é necessário esperar pelo tempo. É o caso desses cartoons, não adianta contrariar um crente que esta convicto de si, ele nunca enxergara além da sua Íris.

Fotografia fonte: www.primeirodejaneiro.pt

sábado, fevereiro 04, 2006

Neve coincidente...

Não sei se os acontecimentos sem cruzam no tempo, se ficam pendurados por um cordel, ou pelo cordão umbilical. Acho que são mesmo as afinidades dos dias que repetem as boas coincidências. 1983 não foi assim há tanto tempo. Apenas o suficiente para definir a existência e não gosto de quantificar em números, acho que lhe retiram a essência, por me parecer sempre o dobro do que é, do que se sente. Dava eu os primeiros suspiros pausados, descansados e certamente inconscientes de certezas e de lembranças. No entanto, há quem recorde por mim e me tenha contado ao longo destes anos que a neve tinha caído quando nasci….nesses anos contabilizados mais pelos outros do que por mim…Frio, inverno, chuva nunca me atraíram, mas neve essa já me alegrava mais que não fosse pela diferença que quebra o clima do Alentejo. Aprendi assim, a gostar desse acontecimento ficou-me como referencia temporal e existencial. E não sou de acreditar no destino, mas já nas coincidências essas parecem fazer parte do meu destino. E desta vez não me contavam a mim que tinha nevado era eu que contava aos outros, que tinha caído neve na planície. E junto ao jornal que tinham guardado religiosamente durante estes anos, guardei eu agora a minha primeira notícia no jornal precisamente sobre a neve. Fico então a espera de que neve num outro ano….num outro tempo…porque parece que os grandes acontecimentos da minha vida se revestem de branco embora eu me identifique mais com o amarelo que aquece a alma e o espírito em dias solarengos.

domingo, janeiro 15, 2006

Monólogo...

Nos olhos pálidos pela falta de brilho, caem os dias, caem as noites. Escorregam as esperanças e alastram-se pelo corpo num cansaço trémulo, nesse mesmo cansaço já há muito anunciado mas adiado. A brisa arrefece a face, já não se reconhece, já não conhece outros propósitos além dos mesmos de sempre. Os mesmos fardos injustos e pesados. O relógio marca o atraso de viver a conta gotas. Somente o coração não abandona essa cor quente que inflama os poros. Ai comporta todos os sorrisos trémulos, adia todos os silêncios, aqui sente tremer cada toque, cada lembrança e cada nova chegada sua, dele…chegadas a dois e por vezes a sós.
Desdobra-se no tempo em mil pedaços, para perceber o que já não entende. Abandona-se a si na esperança de assim abandonar o que sente. E depois entre as palavras que se perdem, entre as interrogações que ficam permanece o mesmo feitiço de sempre. Desgarram-se os sentidos nessa batalha feroz, mas frágil. E onde fica esse lugar a salvo? Onde se preenche os vazios? Como a areia que escapule por entre os dedos, assim lhe foge o que anseia. Desfaz-se em qualquer coisa se possível, para que este rumo mude de direcção. Para que esta ferida que não sara, cicatrize. E ao menos se pudesse deixar de ouvir esse tic- tac do coração, essa batida frenética do gostar que entoa e faz eco no corpo todo. Ainda assim…seria mais fácil deixar de querer. E nos dias gastos sobram as sombras geladas como gumes perdidos, por falta desse sentir que abarca o espírito.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Visão anual II...

Lisboa com centro do meu mundo, rodeada pelas fronteiras da terra que sempre me circunscreve o Alentejo.
Sabia que este ia ser o ano das grandes batalhas, não receie as conquistas mas temi sempre as despedidas.
Andei na anciã de alcançar as metas e na saudade que elas implicavam. Pedi ao tempo para voltar, para parar, para ficar ao menos (ele o tempo), por mais tempo…
Mas ele não parou…Então agora já noutro ano…olho para trás…
E revejo cada momento com saudade e parece que não, mas é bom ter saudade é sinónimo de felicidade…
Terminei o curso e ainda agora me parece que a minha mãe me estava a entregar na sala da escola primária, para o meu primeiro dia de aulas.
Foi óptima a companhia de todos vocês…simplesmente foram quatro anos fantásticos.
Um óptimo verão pela companhia de sempre nos locais de sempre onde nós já nos confundimos com o espaço, porque afinal até já acho que somos unos. (Malhão…Ilha de Tavira, Carvoeiro e todas essas paragens as quais um bom filho sempre a casa retorna).
Depositei todas as peças sobre o tabuleiro e esperei pelos xeques-mates. Tardaram mas ensinaram-me a ser paciente. Sai de Lisboa, em minha mente parecia algo impossível. Terminara mais um ciclo…deixei de viver com os fantásticos, com a família, éramos uma espécie de livro os cinco. Mas é uma etapa amigos (vocês que sabem quem são) e cada um está a seguir o seu rumo e alias estamos sempre por perto, porque nós nunca nos separamos, porque andamos sempre a par e passo porque afinal são esses os verdadeiros amigos. De volta ao Alentejo, a aguardar mais uma vez pelo tempo. Novos hábitos, novas rotinas, novas caras…e termina o ano num misto de alegria e saudade.