quarta-feira, maio 31, 2006

Lisboa abaixo, Lisboa acima...

Rua acima, rua abaixo. Esquerda, direita, um folgo de ar, uma batida. Duas pernas a andar e simplesmente um sorriso no lábios. Largo, rasgado, grande, enorme…Nessas ruelas estreitas, por entre paredes, por entre muralhas, aviões, carros, peões verdes e vermelhos. Confusão sim muita, mas eu gosto desse rumor nos ouvidos, não me fere a cartilagem. Nessa calçada cheia, repleta, nessa voz que me chama, que me aquece e me devolve sempre que necessário. Janelas e portadas altas, tudo alto, tudo no cimo. Pendurada em lençóis brancos por entre o corpo, descendo escadarias que arrefecem os pés. Desamarrota o céu, encaixa-o no rio e segue a rebolar por as colinas, em pé-coxinho e chinelos de dedo com terra nos calcanhares. E sobre os carris, sobre as caras de ninguém tu tens rosto, e eu conheço-o também.

domingo, maio 28, 2006

Porque afinal tu (tempo) não alteras nada....

Tempo para, não andes, fica mudo, imóvel, canta ou simplesmente que tu te danes.
Foi isto que me apeteceu dizer-lhe a esse senhor que faz as horas andar, que faz as coisas gastarem-se, que faz as coisas terminarem. Maldito tempo, despejar toda a minha raiva nesse impositor, nesse ditador. E depois pensei por mais voltas que dês não me encerras e não me irritas. Gira em ponteiros que é só mesmo o que sabes fazer. Eu cá giro em torno de coisas, em pedaços de material puro, em sorrisos e olhares brilhantes. E o tempo pode ter sido curto, dias, anos não chegariam…mas chegaram-me os vossos abraços, chegou a cumplicidade, as gargalhadas que fazem amarrotar a barriga, essas coisas intermináveis que nunca mudam…e já fazia muito tempo que não nos víamos, o que so prova que ele (tempo) não altera mesmo nada, porque há momentos, que são vidas.

segunda-feira, maio 22, 2006

Coisas simples...

Andei a vaguear por aí perto de nada e perto de tudo. Andei em círculos e em rectas, andei somente nesse espaço. Peguei nas mãos e metias nos bolsos como quem não tem nada que fazer, peguei nas pernas e fiz com que andassem. Um, dois, três...não carneiros, são caroços que enchem a boca. São nêsperas amarelas, nessa minha cor de infância que era pirosa, até então e que agora esta na moda. Os lábios molhados e em redor da boca somente desliza esse sumo que cola e que me reporta para aí dez anos atrás, doze os que queiram façam é de mim criança (e como era bom, imaginem muito tempo se quiserem eu não me importo). Enfim tudo isto para dizer que ainda não aprendi a comer sem me sujar, tarefa quase impossível na minha diária. Adiante há dias em que não acontece nada de especial, mas digo-vos este sabor na boca, esta falta de formalidade tem sabor... o gosto dos dias, pequenos prazeres que fazem dias cheios (e gosto mais disto do que ouvir mentes vazias).

quinta-feira, maio 18, 2006

Apenas uma questão ergonómica...

Sempre se quer mudar alguma coisa, que mais não seja a mesa de sítio, o quadro de parede e os sapatos de lugar. Sempre se quer, porém apenas coisas simples, coisas banais que não incluam grande esforço mental e que não alterem muito a rotina de seres comodistas, que receiam a mudança. Querem mudar-se assim, essas coisas fáceis que não criem conflitos , que não acabem por ser um problema, quando o problema consiste mesmo no deixa andar...Mas por cá tudo bem e tudo ao contrário. Criticas muitas, alternativas poucas, movimentos escassos, soluções nulas, vontade inexistente. Agir é melhor então nem pensar nisso. Então no país das maravilhas vamos mudando os móveis, vamos trocando de carro e lamentando. Porque aqui as coisas até são prováveis que caiam do céu. Porque mudar queremos, falta é a vontade, o tempo e essas coisas que nos retiram horas de café, de sono e afins. Mas tudo bem, talvez seja melhor pensar se a cama não ficaria melhor ao contrário, não é por nada em especial, apenas por uma questão ergonómica, porque assim até parecemos inovadores.

segunda-feira, maio 15, 2006

Intensidade Momentânea

Hoje apenas assino saudades...
Escassamente para que não aumentem.

quinta-feira, maio 11, 2006

Pensamento

A sensatez nem sempre é sensata para quem a pratica, cheguei a essa conclusão hoje. Sim, pode ser o mais correcto, mas nem sempre o correcto é o que realmente se quer fazer. Sensatez, insensata portanto.

Descrição I

Uma arcada, uma janela com vidros fuscos, duas ventoinhas respiratórias, tudo artificial portanto, mas eis que se abre a janela de portadas pequenas, um rectângulo e somente verde...barulho dos pássaros e um ponto rosa... é uma flor. Digo-vos que até as ventoinhas já nem parecem tão feias assim.

quarta-feira, maio 10, 2006

Coisas relativas...

Ele há coisas relativas, coisas que pesadas na balança dos dias dão apenas uma e por vezes nenhuma.
Ontem ao subir a rua, essa de calçada larga ia a pensar o quanto custa a satisfação plena. O quão difícil é o contentamento humano, digo-vos mesmo que por vezes preferia ser bicho (sei que já o sou). Então cá ia eu e o dia normal como sempre, nada de grave, nada de preocupação, nada de perda, somente o dia, ainda assim parecia faltar alguma coisa. Irritada com esta falha, que não me fazia desfrutar e a pensar quanta gente estaria a passar por mim, com motivos reais para estar enfadado e a odiar o poder estúpido da minha mente. E eu tudo bem e tudo mal. Continuei mais um pouco e acho que a cabeça já estava longe, acho que mais perto de coisa nenhuma. Já nem a pensar estava, e eis que oiço uma voz, daquelas transparentes e genuínas. Menina, dá-me um cigarro? E eu imóvel pela melodia que saia dos seus lábios – Não fumo! E ele - Melhor assim! Era alegria que saia dos seus olhos, era vida, eram notas de sol e era mendigo.
Ele há coisas muito relativas.

sexta-feira, maio 05, 2006

A melhor notícia do mundo...

Cheguei um pouco atrasada, mas soubesse eu e teria corrido só para ter sabido mais cedo. Há anos que ando a esperar eu e mais uns milhares, há uns anos que nos tinham tentado retirar a alma ou a fonte de desenvolvimento, mas em vão, ninguém apaga o intrínseco o crescer, viver e por aí. No entanto, só quem sente apego pode perceber o que tento dizer, só quem sabe o que é o cheiro do minério misturado como o do campo, percebe o significado destes sorrisos rasgados.
Não sou do tempo áureo desse porto de modernismo e avanço do País, mas sou do tempo de laboração, e é q.b. para saber como era e com é.
Todos os dias atravessava esse bairro pela mão, com um chapéu na cabeça, dava passos grandes, demasiado até para o meu tamanho, para poder acompanhar e chegar a horas de entregar a cesta de verga, com o pano aos quadros que embrulhava a marmita para não arrefecer. Atravessava a gruta que dava acesso ao outro lado, lá dentro uma escuridão e depois um monte de homens com as caras tisnadas e luzes na cabeça.
Era num folgo que corríamos para ver o elevador descer para o centro da terra e ali ficávamos parados agarrados aos ferros, a ver o quão fundo ia. Eram os vagões o nosso melhor esconderijo e motivo de piqueniques, pedras de minério que brilhavam ao sol pesavam nas mochilas ao regressar para casa. A terra das rochas o melhor cimento para esculturas, desenhos e brincar aos adultos. A água forte o nosso maior receio, diziam que quem caísse para lá já mais voltaria a vir, contornávamos essas lagoas de água castanha, vermelha mandando pedaços de coisas para ver o que acontecia...Só mais tarde percebi que só com o tempo corroía.
É por todos estes motivos e mais alguns, por amor sim no sentido mais puro, que hoje os sorrisos me escorrem, que os olhos brilham e se enchem de pedaços de sal. A desconfiança é algo a que nos habituamos, mas hoje parece ser mesmo a sério e a notícia ecoa de boca em boca, e cada vez que alguém me encontra tão feliz e alegre no seu entusiasmado como eu, me diz: Já Sabes, a mina vai reabrir! E são pedaços de coisas genuínas, enrolados no desejo de voltar a ver a azafama e raiz cultural de um povo a renascer, que me faz hoje ancorar as melhores coisas que se possam imaginar no músculo. Hoje não vos sei explicar só mesmo sentir...

quarta-feira, maio 03, 2006

1+1+1+1+1......=.....

Somos mais do que a conta, as vezes penso até que somos mais que o possível. Grãos de sal, de areia, de açúcar e de tudo o que escapule por entre os dedos. Coisas incontáveis, com resultados infinitos...onde o número não cabe no visor electrónico da máquina de calcular (essa que pensa por nós, essa que nos desapega de qualquer raciocínio). Não consigo quantificar, por isso parece-me muito, uma mão cheia de coisas de um novelo enrolado em mil voltas, e de bolas de sabão pelo ar, qualquer coisa que supere os números. Somos os que somos e ainda bem que são tantos ou tão poucos (depende da visão, opinião e imaginação) e que se junte quem vier por bem...