terça-feira, agosto 29, 2006

Geração dos químicos...

Hoje a temperatura aqui da cidade anda elevada. E eu a subir rua com inclinação acentuada, nas minhas pernas ainda não muito gastas pela vida. Quando por mim passa, com o dobro da minha velocidade, uma senhora como mais do triplo da minha idade. É caso para dizer que já não se fazem pessoas como antigamente.
Pela negativa eu desconfio que já sou da geração dos químicos, desses das maças, das alfaces, da água e dos corantes...

quarta-feira, agosto 23, 2006

Só pelas coisas simples...

Vieste de longe. Eu vim de perto.
Sabes para onde vais?
Não somente ando perdida nos dias, como sempre
É melhor não me seguires.
E se seguir?
Somente tens de te encontrar. Como os homens da bolsa e os senhores bancários, e os médicos, e os advogados aparentam ter sempre rumo certo.
Eu vim por causa do emprego. E tu?
Eu só cá vim ver a água.
A água porquê?
Só pelas coisas simples da vida.

terça-feira, agosto 22, 2006

Rico mas tão pobre...

Tenho andado por ai. Com a cabeça a flutuar, com o corpo a entranhar. Tive aqui e ali, acolá e agora ando por cá. Tive nas rotas, nas direcções. Tive sem tempo, com tempo tive somente a absorver. Numa das paragens temporais, tive em Puerto Banus. Entrei já com os olhos ostentados. E ainda hoje brilham a ouro falso. Senti o cheiro das notas, da luxúria e ali considere-o o pior dos pecados. Tantos olhos e tão pouca barriga. Seja o prazer de quem tudo queira sem sabor. O diabo andou à solta em Puerto Banus, remexeu nas mentes e desenhou-as aos cifrões. Senti um vazio, uma falta de cheiro, de terra e calor humano. E deslizavam na avenida como quem desliza em passerelles, com o peito para fora e as marcas espelhadas aos brilhantes pelo corpo todo. Os carros que em euros são difíceis de fazer a conta, amontoavam-se num desfile de vaidades e cilindrada. E eu a pensar que logo ali a milhas uma criança morria à fome. Não uma por dia, uma de oito em oito minutos e agora sim, por dia.

segunda-feira, agosto 21, 2006

O romantismo anda doente...

Ele há coisas que me fazem confusão, entre as várias encontro umas que os ouvidos encaram como dolorosas. Coisas simples, mas tão ridículas, tão vazias, tão sem nada que me parecem ocas. Estava a almoçar, tranquila com a cabeça mergulhada em conversas e risadas sobre tudo e sobre nada. Ao nosso lado um casal estava apaixonado, coisa boa portanto. No entanto, o rapaz abria a boca e acabava com qualquer romantismo inteligente. Fonemas saiam repetidamente, o que atingia a maior percentagem era bebé. Bem, há por ai alguma mulher que goste de ser tratada por bebé ? Eu acredito que o amor tudo tolera, mas e a criatividade, a originalidade, morreu pela boca. Bebé é mau diria péssimo. Apeteceu-me dizer ao rapaz para arranjar outro adjectivo, mas vai na volta são só gostos e não se discutem. Como dizia o outro cada uma sabe de si. A conversa prosseguia e não tardaria a saltar da boca do rapaz outro adjectivo fofinho, diria mesmo rechonchudo. Gorda. Normalmente, todas as mulheres ficam meio atrapalhadas com esta palavra. É algo não desejável, não o fosse e não correriam para o ginásio até as pernas gritarem: pára! No entanto, mais uma vez nesta situação é encarada como palavra querida. Mas o pior é que a rapariga era magra. Mas ok, o romantismo anda afectado pelas coisas pirosas, anda doente, cego aos olhos dos crentes.

domingo, agosto 13, 2006

A Sudoeste...

Andei por terras com música, ainda trago no ouvido sons, risadas, festa e sorrisos abertos. Andei por terras onde a linguagem é universal, onde apenas notas melódicas são dialecto oficial. No meio da planície, onde o mar quase corrompe o pasto, ergueu-se a cidade das vibrações. E lá no meio pula-se que nem doidos, e as pessoas andam mais descontraídas que o habitual, e vale tudo até o sol raiar. Cheguei ainda o sol caia, pó foi o primeiro sinal de que estava a entrar em recinto certo, carros amontoados, em planície vasta, o nome em tudo lhe assenta fica mesmo a Sudoeste. Troquei o papel por uma pulseira e senti-me com um pedaço de mar no braço (Azul, costa Vicentina). Gente, muita gente, àquela hora procuravam jantar, tendas muitas tendas, tantas que qualquer buraco servia. Vizinhos a perderem de vista. Tudo a postos, encontro a minha tribo, já com o espirito no corpo. E cá vamos, palco principal como destino, um dos meus primeiros objectivos estava cumprido, Goldfrapp nos ouvidos. Temi pela desilusão, mas não. Um recinto de publicidade, tudo são marcas, uma operadora telefónica até fazia doer os olhos, e mesmo sem querer também eu andava a fazer publicidade, no pulso. Cabeças flutuam no horizonte, muito humano junto, mas mesmo assim, consegue-se encontrar os conhecidos, choquei com todos os que queria.
Noites dentro, festa, e música sempre entre o cérebro, o corpo e a cartilagem...escolhemos bem os destinos, oferta vasta. Da nossa selecção para perpetuar saliento: Goldfrapp, Prodigy, Buraca Som Sistema, Legendary Tiger Man, Macaco, Marcelo D2 e Daft Punk. Muitas decepções pelo meio. Já agora quem conhecer a Skin diga-lhe para cantar em vez de gritar. E os Madness não fizeram luz ao Ska.
As manhãs eram mesmo alvoradas, calor a mais para dormir em cenário de estufa. Filas para tudo, mas com alguma manobra, comíamos bem rápido os cereais, também oferecidos. Os brindes chovem dentro do recinto e as pessoas amontoam-se em busca das borlas, mesmo que depois não sirvam para nada. Zambujeira do Mar é o trajecto mais conhecido, todos os caminhos vão dar ao mar. Pelo percurso esplanadas repletas e o dinheiro a ficar, que mais não seja, uma vez por ano, no Alentejo.
No recinto os estilos são vários, passeiam rastas, cristas, cabelos compridos, curtos, gentes com cores e gente de negro. Há de tudo, mas o que mais houve nesta edição foram os óculos tipo aviador...há por ai quem não tenha?
Muita bebida, fast-food, e comida razoável também. No entanto, tudo caro, tudo a apontar para bolsos fartos, tudo lá no cimo. É caso para dizer: já que o espírito está, porque não há-de estar a carteira também? E depois as pessoas pensam e vêem que afinal o Sudoeste é em Portugal.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Agosto...

Chego à hora que dita a entrada em mais um dia de trabalho, normalmente percorro artérias em busca de um lugar, com sorte acabo sempre por encontrar. Mas agora, nem artérias percorro, não busco estacionamento, deslumbram-se perante os meus olhos espaços vastos à escolha do freguês. É Agosto e o povo aqui da cidade encontra-se literalmente de férias, os que não estão suspiram por elas, mas basicamente o sentimento é o mesmo. As ruas andam meio desertas, aos serviços falta-lhes gente e o ritmo anda tardio. Chego ainda com o sumo na mão, encontro menos gente que o habitual, o calor aperta, os olhos ainda dormem, os jornais inventam temas, em Agosto dá-se importância a tudo aquilo que normalmente se risca em meses atribulados.
O País está a banhos, mergulhado no sentimento bom do Verão. Fugas repentinas, afugentam as preocupações do quotidiano, enterra-se a cabeça na areia, esticam-se os pés na esplanada e flutua-se por 15 dias em profunda alegria. E depois o Agosto vai e o Setembro já começa a recolher os cheiros do Outono, e depois o Inverno chega e a depressão volta à baila dos dias. A Primavera anuncia a viragem e depois...depois é Verão outra vez. Mais 15 dias de felicidade...em Agosto.