segunda-feira, janeiro 29, 2007

Gosto de mercados...

Gosto de mercados, desses, em que a fruta cheira a fruta. Especialmente quando chegam os ares do campo que, por momentos, afastam o odor dos químicos. Gosto dessas bancas alinhadas entre as laranjas, as maças e as alfaces. Degusto pelo olhar mas, sobretudo, os aromas confundem-se e, por vezes, já não distingo o rosmaninho do alecrim. Inalo o poejo com os sentidos vincados no hortelã e as mãos, essas, prendem-se aos molhos de salsa. Não me ficando, porém, pelo apreciar de cores diversas deslumbram-me estruturas que erguem verdadeiros centros de tradição, normalmente, com telhados de chapa bem altos. E lá dentro, as vozes fazem eco e os verdadeiros vendedores tradicionais trazem no corpo rostos puros, tão puros como a hortaliça. O gosto é de há anos, mas tem dias que se acentua. A caminho de País vizinho, paragem em Estremoz para almoçar. Aquela paragem mais do que certa e mais do que recompensada. Ali, em plena rua; em plena artéria principal da cidade, bancos com estofos de palha, capoeiras e galos lá dentro, caixas de ovos ainda quentes e uns limões apanhados da horta. Stock q.b para montarem a banca. E nunca um mercado me tinha impregnado tanto com o cheiro da terra. Oferta improvisada com o que o bocadinho de quintal dá. Laranjas da época ainda com o ramo, nabos, potes de mel em frascos de doce, piripiri aos molhos e azeitonas com o pé da oliveira. Sentimento tão leve que acho que a atmosfera não estava poluída. Por certo que cheirava entre o verde e o castanho, onde se estendem as raízes e brota o essencial ao ar.
Não esquecer nunca: Ir a todos os mercados quanto possíveis.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Simultaneidade



Em plena harmonia ou em pleno desaire? Não sei bem.
Com a cabeça a fervilhar bolhas, com os ombros a rejeitar o cinto, com os olhos cansados, com as mãos geladas, com a caminho por percorrer, com o dia quase terminado, com a boca seca, com as horas a passar, a mente longe e uma tarde cheia, somente, de coisas.
Um tractor a impedir velocidades e uma bolha amarela a entrar-me pela cabeça em jeito de alucinação numa arte psicadélica. E depois...depois, a música do Variações, em boca de humanos, a passar na rádio.
Estou bem aonde não estou...
Porque eu só quero ir aonde não vou...
Ele há simultaneidade?