quinta-feira, maio 24, 2007

Coisinhas que dão confusão...

Passei por uma montra cheia de vestidos de noiva. Lá dentro, uma boneca sem rosto tentava passar a maior felicidade do mundo. Sim, a boneca não tinha lábios. O vestido era branquinho como a cal. Provavelmente, entrará no corpo de alguém que sonha com dias felizes. Mas, os dias começam chatos em casamentos. Normalmente, Agosto quente é o mês escolhido, os cabeleireiros fazem penteados muito feios nas pessoas chiques por um dia, a maquilhagem é exagerada e o calor seca o rímel. Então, a ideia é ser um dia de comemoração. Festa muita festa. E há por ai alguém que se sinta confortável em vestidos de tecidos foleiros? Quem começa a comemorar por uma missa? Quem se gana por ir tirar fotografias pela hora quente? Quem gosta de adiar o estômago para depois da missa e das fotografias? Será o princípio de algo estrondoso? Depois as pessoas comem marrecos nos fatos, os pratos inundam-se de talheres e a mesa dos bolos contínua intacta. Casais deste País façam um favor a vocês e aos convidados, casem de chinelo no dedo, vão de calção, deixem-se de formalidades e saiam dos fatos convencionais e das festas ridículas, onde ninguém se diverte. E já agora não empenhem os papás, nem os convidados…é que a vossa pseudofestinha sai cara. Quem é que se diverte num casamento de burocracia? Eu, certamente que não.

segunda-feira, maio 21, 2007

Revelações I

Tem caído gotinhas de palavras
a minguar em quarto crescente
A formiga carregou um miolo de pão,
não houve sapato assassino.
sentes as cortinas?
são lençóis presos do cheiro de semente.
aqui, em casa não há corredor,
mas temos tapetes.
Queres que te mande?
Subo as escadas.
Dentro da corrente,
não há ciclones de vento
Tenho os dedos a cheirar a romã
Os bagos caíram pela janela
Sentes?
Cá por dentro…soa ligeiro
Ouves?
Não rima é o importante.
Mordo o lábio.
Não têm afinação.
Já te disse que não gosto de consonância?
Então, não gosto do que rima.

sexta-feira, maio 18, 2007

Essa coisa das fitas...

Queimam-se as fitas e afinal fitas hão muitas. Pior do que isso, queimam-se antes de tempo. Ardem sem final anunciado. É tradição as famílias vestirem-se a rigor, o bispo vestir os melhores linhos e os estudantes colocarem-se de luto. É tão assim que golpes de sol são mais do que muitos e a missa é chata. Mais chata ainda para a família, faminta de encontrar um fio de cabelo na multidão. É orgulho estampado. É verdade. O meu filho é doutor e seguiu os caminhos do bem. Como se o bem se praticasse em bancos fáceis de faculdade. Estudei, sei bem o que é a universidade. Hoje, somente a encaro como um local em que se aprende o que se acha interessante. O local das relações humanas e da juventude de quem não espreita muito o futuro, porque depois se verá. É um local de alienação. Fiz a bênção das pastas, eu que não acredito em Deus. Fi-lo a pedido de quem acredita e que merece o maior respeito do mundo. Avó as coisas que eu faço por ti. Tenho escrito fitas. Aqui, pode dizer-se coisas maravilhosas acerca das pessoas. Sabem quando alguém morre e é sempre bom? É assim que sinto as fitas. Deprimem-me. E afinal quem sabe que acaba o cursinho em Maio? Vamos comemorar, encher o corpo de líquido. Vamos ler coisas muito boas acerca de nós e depois lá para Setembro falemos de notas. Vamos benzer-nos porque somos pecadores. Vamos pagar mais qualquer coisinha e vamos alimentar a imagem de que todos temos uma entidade superior, à qual devemos respeito. O final do curso só se sente uma vez. E nem se sente tanto como se pensa. O final sente-se no dia em que a última nota sai. A minha reacção foi: Mãe terminei o curso. Surgiram parabéns de todos os lados e eu sem jeito para essas coisas, em minha homenagem. Não gosto de bombardeamentos E, hoje, sou a mesma pessoa. Tenho a sorte de trabalhar e outros ainda procuram, neste Portugal pequenino. É tão fácil o mundo das fitas, afinal ainda não se acabou. Agora, percebo a razão dos estudantes vestirem o luto. Acreditam em premunições?

quarta-feira, maio 16, 2007

Finito

Fim da linha. Próxima paragem e tão cedo não ando de comboio. Acabou o dia e a noite há-de acabar também. Estou para aqui, eu, lamechas e depois olho para o meu umbigo e vejo que sou egoísta. Demasiado concentrada em mim. Há ai gente bem pior. Não é porque a árvore verga que a ramagem cai. Não é que eu me ache algo, somente não penso é nada de jeito. Inventem-se novos temas por favor, inventem-se novas metáforas e toca a cantar: ao passar ao barco rumando para o sul. Chega. Nova vida e que se junte quem vier por bem.

Acabou oficialmente a minha fase estúpida se não espanquem-me muito, sem dó nem piedade. E metam-me os dedos nos olhos, que eu adoro ui....

segunda-feira, maio 14, 2007

Rogai

Num acto tonto e incontrolado penso ser mais do que é. Nesses actos de desesperos que nos mancham a alma e sacodem a razão, encontro-me em fragmentos. É dia e a noite não parou de dormir. Quantas voltas tenho de dar eu a correr? Que estúpida essência inalterada de tudo ver quando os olhos só são para olhar. Sempre direccionei o meu bater para coisas que realmente são a proteger. Hoje, assumo que a burrice é coisa grave e séria. Provavelmente, um rabisco a carvão, deveria de ter borracha para apagar o traço. Entre tantos clichés, pergunto-me se isto faz algum sentido. Divina alma superior rogai por mim, porque a minha mente está turva e as minhas mãos desaprenderam de rezar, porque nunca o fiz. Amem.

domingo, maio 13, 2007

Abelha de asas leves e de azar estampado

Um dia uma abelha picou-me a cabeça, o cérebro inchou. Julgo que até hoje o ferrão se mantém em mim. O gelo não o sucumbiu, o alto baixou. Agora, o veneno permanece entre um lóbulo e o outro, deambula e tem vezes que chega ao coração. Mais tarde empenho-me a favor do diálogo e de algo construtivo. Não sou aquela pessoa que conta os dias, os anos e vê passar as datas. Não encontro derradeiros encontros. Um dia, uma abelha picou-me. Na ingenuidade digna de qualquer animal mordeu-me e não se fez ouvir pela boca. Guardo meras descrições de patas leves. Rondou-me e só não me comeu porque eu não sou boa para trincar. A abelha morreu-me pela cabeça. Hoje, penso que indefinidamente poderia ter morrido numa folha de árvore verde, com cheiro a chá e o mundo seria suave, o óbito seria digno. Num derradeiro encontro a abelha teve azar e chocou em mim. Hoje desejo fazer boa figura e fazer vénia ao insecto, quando o facilitismo da minha existência assim o permite. Julgo-me salva entre os que estão, mas mais do que isso vou ficar com o vulgar linfático cariz de ter sido o último cabelo comprido onde pudeste pousar.

quarta-feira, maio 09, 2007

O que se pede...

A semana impõe carícias nos ouvidos.
Mãos largas e abertas a tudo.
O dia impõe olhos a rir…de ler coisas, que são mais do que isso.
Talvez uma carta.
Seria semana se ficasse mais perto da distância. (mais curto…um passo, outro…)
E se fosse eu de novo a receber as borboletas?
O dia seria tão bom…