quarta-feira, outubro 31, 2007

A cigarra que canta à semente...

A semente cresceu ao lado de uma cigarra. Engrandeceu verde e caiu amarela. Entrou pele adentro da lama. Respirou com o mesmo ar dos pulmões e cuspiu a única sede que a terra lhe pediu, água. Redondas continuaram as cabeças dos homens dos bancos, a fazerem contas de subtrair às almas. A cigarra cantou. A semente brotou. O homem entediou-se, mas continuou vestido de fato. A cigarra voltou a cantar, ao lado da semente que cresceu. Só ambas sabem da perícia da arte de ser. Na paisagem fulgura um abraço em jeito de carícia à vida.

terça-feira, outubro 23, 2007

Parvos como eu...

Ainda que as margens não tenham linhas.
Que as asas se atirem às penas.
E que as rectas percam os pontos.
Gosto é de parvos como eu.
Por dentro.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Outono

O Outono caiu. Não que tenham chegado as folhas partidas. Os homens pisam-nas, mas elas voltam a brotar de verde. Pareceu-me que o Verão foi até à 5 minutos. Quase que diria que, ontem, o sol escaldava quente nos dedos. Depois, arrefeceu a vontade de saber. Procurar ficou como um sítio vago, sem fundamento. A busca permanece nos feixes de lâmpadas do corpo. Tudo a cor de amarelo-torrado. Expectantes ficaram as letras. As leituras já nem utilizam os olhos. Estão descrentes no palavreado fácil. Topam a léguas a falta de senso. “É a vida”, dizem os seres. Preguiça de querer saber, se é que quero, porque raios mudam as estações da alma em horas? Eu sei, são as pessoas que influenciam as cores e, ainda mais, o calor do peito.

terça-feira, outubro 09, 2007

A ver camélias...

A cabeça deitada sobre a mesa. É assim que deve ficar. Abismos de prudências. Digo isto, salvaguardando-lhe a forma, o medo, as ganas, o imaginário. Descanso o desassossego de lhe dar utilidade. Pausa de pensamentos. Lá fora, continuam a crescer as camélias ou as rosas-do-japão. Chamem-lhe o que quiserem, mas não lhe desafiem é o cheiro. Com a cabeça na mesa, são do comprimento da minha altura que cresceu sem aviso prévio. Um dia estiquei-me e fiz-me gente. Um bom girassol dá-me, mais ou menos, pela barriga. Não se trata de sonolência. Não é preguiça. É, somente, o tempo todo adiado a ver camélias puras.

quinta-feira, outubro 04, 2007

A(braços)...

Diz-se coisas ao ouvido. Tantas, várias, muitas. Como silêncios que não falam. Tantos, vários, muitos. Devem ser como as laranjas nos pomares. Muitas, tantas, várias. E como as cordas do pescoço, que pautam notas. Uma, duas, três. As frases adiadas nas vozes loucas. Várias, tantas, muitas. De tanta gente alienada. Muitos, tantos, vários. Claro, parecem-me infindos. Tantos, muitos, vários. Cálida a expulsão do eco: Queres, que…re...s? O quê? Abraços, abr…aç…os. Tantos, muitos, vários. Um, dois, três…infinitos!