quarta-feira, setembro 20, 2006

Anos há...

Anos há em que as paredes de gente criança e adulta por estes dias, se enchiam de destemida vontade, de tamanha coragem e de pouca vergonha. Paredes fáceis quando as coisas eram fáceis de dizer. As pessoas crescem e deixam o atrevimento para trás, com ele ficam os murais, as secretárias, os cadernos, as bolsas dos lápis e as mochilas pintadas. O corrector passa a ter só uma utilidade – apagar erros de canetas - canetas de cor deixam de fazer sentido, e borrachas pintadas parecem ridículas. Hoje, lêem-se os sonetos e murmura-se para dentro, até se tem vontade de dizer, mas as palavras não se descolam da boca. Anos há, para esta gente, que era fácil dizer: Amo-te. Anos há em que se escrevia na parede para toda a gente ver, anos há em que se esfolavam as portas das casas de banho, e se deixava o nome gravado a perpetuar, juntamente, com a data e o nome da outra pessoa. Anos há em que se dizia Forever, por o inglês soar sempre melhor aos ouvidos, quando a descoberta encaminhava as coisas fixes de dizer nesta língua dos filmes, e as menos curtidas as remetia para o português.
Há anos que as pessoas não dizem amo-te com tanta facilidade, tantos anos que acham que são coisas tolas de crianças. Mas anos há também, em que amo-te saía sem sentido, paixões passageiras de sofrimentos rápidos. E hoje as pessoas sentem a sério e não dizem porquê? Por vergonha, porque afinal acham-se ridículas ao dizer, e afinal as paredes e os murais, as mochilas e as bolsas dos lápis, as borrachas e as portas das casas de banho das áreas de serviço, deveriam de voltar à baila do dia, para tirarem palavras difíceis da boca e mostrarem frases fáceis de ler.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sobejamente alcançado o objectivo. Mas que coisa tão acertada. Parabéns ta supremo.

Anónimo disse...

Desenham-se lugares, para tal palavra sair da nossa boca, mas o que é certo é que ela teima em não sair. Mais fácil escrever, para quê dizê-la... Pois é, todos nós já a sentimos, uns mais intensamente outros nem por isso, mas tal não é a sua força que nem todos são capaz de desmonstrar que o "AMO_TE" existe em todos nós. Cobardes não sei, vergonha de reconhecer o que se sente talvez, medo de dizer essa palavra dificil por não se ter certezas...não. Egoísmo cada vez mais, medo de vir a sofrer é o que acho.

"... uns dias amo muito, outros nem por isso..."

Anos há... lool, a tradição já não é o que era..lool

BJooss****