terça-feira, dezembro 20, 2005

Folgo de ar...

Nas manhãs de Inverno sempre se julga que a frieza do tempo é mais fria que a despedida. No entanto, o tempo mau vai com a chegada da primavera, mas a dor de sentir alguém a ir-se fica entranhada pelos poros da pele. E enquanto as temperaturas desciam, eu ouvia apenas essa voz de mágoa num misto de medo. E eu ali a sentir que o ar não faltava só a quem estava preso a essa cama, mas a quem se movimentava e lamentava a minha frente. Não me é ninguém chegado apenas um conhecido de rua de há anos. Mas nunca eu me sentira tão próxima de alguém tão distante dos meus dias, da minha rotina e dos meus hábitos. Mesmo que ninguém lhe pergunta-se pela vizinha Maria, mulher calma e pacata amolgada por alguns cardos da vida, mas feliz nos mistos sabia que a situação se agravava, era o meu caso. Com os dias era inevitável apenas uma máquina lhe sustinha a respiração. E quem sustinha agora a respiração a este homem (ao vizinho Manuel) que sente a escapulir pelos dedos a companheira de uma vida…a dor de quem sente a partida sem dizer adeus, de quem se sente ao abandono da sua sorte madrasta. De quem já não tem muito a perder e afinal perde tudo num simples folgo de ar. Entre um suspiro e outro eu ouvia – E agora que vai ser de mim? Nunca a solidão me esteve tão vincada no corpo. Nunca o desespero de alguém me ecoou tão alto nos ouvidos . E eu imóvel sem sorrisos alheios com a vontade de esticar a mão, mas sem a proximidade suficiente para abraçar. E inconscientemente pedias-me a mim, e a quem tivesse ali que pedissem por ti e pela Maria. E ainda que não acredite e não seja apologista da eternidade hoje se pudesse era a tua Maria que a daria. E se me pedes eu rezo ainda que não me converta, para que essa dor não seja tão fria quantos estes dias.

domingo, dezembro 18, 2005

Cavidade superior...

Concentrar todos os propósitos num músculo, aplicar a ele todos os sintomas de frio que abarquem o espírito. Torcer para ver se ele se liquefaz, ver escorrer mais do que nada, mais do que tudo.
Tudo se compacta na parte superior da cavidade de cores pintadas a mão por diversos autores. Alguns óptimos artistas, outros nem chegam a essa categoria…interpretam mal o seu papel e interpretam-nos mal a nós.
O cofre guardado a sete chaves, com um código difícil de decifrar…fosse ele fácil e não torcia nem remexia o corpo todo num avesso.
Concentro-me nele, nesse músculo por ser mais que pensamento…e ainda assim insiste em ficar com as suas duas faces que se transformam num embaraço. Não se dissocia, não se transparece…rege, amachuca, ri, é gelo, é lume…maior do que a chama. Concentro-me e ele é traiçoeiro e por vezes tão certeiro. Não fosse o coração o corpo inteiro.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Regresso...

Fora do tempo parecia estar esta manhã. O sol brilha nessa vidraça como passados dez anos atrás. É esta manhã que resolvi guardar, não por mim mas por ti…é estranho mas hoje irradiavas o brilho de outros propósitos de outras vontades, uma nova página embora que momentânea em minha mente. Ainda assim soube bem ouvir essas gargalhadas, soube bem escutar esse tom de voz, soube bem afastares os fantasmas. Não fosse somente três número perfeito e olha que hoje acredito que é mesmo, e todas as linhas que te corrompem seriam unas nestas horas. Confesso que estava quase a desistir, mas deste-me novo folgo, moldaste-me a caixa-de-ar e respiro mais pausadamente. E estou lentamente a colocar-me a abrir essa nova cortina que espreito através dos teus olhos que são os meus por afinidade, e por laços de sangue. E hoje o medo de te ver a ir já não me atravessa porque tu estás a regressar… lentamente a vir.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Efémera

Hoje enquanto me sentei no sofá liguei a televisão entre um programa e outro sem interesse, aparece uma efémera a aproveitar cada momento como se fosse o último...com apenas um dia de vida. Na sua condição de curta existência, a sugar a vida num só suspiro, a não se preocupar com o amanhã, sem passado, sem futuro apenas com o momento. Esqueci tudo o resto...esqueci as preocupações e a falta de amanhã. Esqueci a falta do hábito, a falta de exigência, a falta sempre de alguma coisa e afinal de coisa nenhuma. Dou por mim a pensar que a efémera não é diferente de nós o importante é saber viver...simplesmente viver, porque a vida essa também é efémera!
P.S. Excelente anúncio, excelente a mensagem!

quarta-feira, novembro 16, 2005

Espera no tempo...

Não fosse a data dos dias se alterar e não saberia diferenciar o ontem do hoje, não fosse pormenores e deixaria passar o tempo todo uno. Revisto-me todas as manhãs e aniquilo esse ar do sul que já tinha esquecido de sentir, andei aos soluços mas aqui eu respiro. Dizem que o tempo é de mudança então eu desço essa calçada coberta de musgo da estação, onde o frio gela a ponta do nariz e acredito que a descida me leva a porto seguro. Como é habito não tenho os dias marcados, ainda não posso riscar no calendário a chegada dessa nova etapa, mas aguardo e espero…não me ensinasse este tempo a ser paciente e já me teria perdido. Sei de cor cada esquina que curvo, sei as caras que por mim passam como se da minha se tratasse e sei quem me espera. Já sei decor a rotina dos outros como se a deles fosse mais horizontal que a minha. O autocarro passa todos os dias a mesma hora, cumprimento o Chico, tomo o carioca de limão na mesma mesa vezes sem conta, exercito e corpo e este alivia-me a mente. Deixo que os ponteiros corram e embrulho-me numa nova forma, ando a cochear mas não tarda e já me habituo aos passos desta nova dança. Esta síndrome de repetição alastra-se pelo corpo mas combate a espera. E com mil patas percorro a demora, com mil vontades encontro o ponto de fuga, com mil desejos afasto a falta, em mil centímetros me desfaço se necessário para percorrer metros. E que voltas daria eu se o tempo voasse…que voltas lhe daria se pudesse e já não o contabilizo apenas o espero…

quarta-feira, novembro 02, 2005

Boa tarde...

Esta é apenas a ínfima parte do dia, a ultima escrita da conversa. Por as entrelinhas ficam as explicações sobre as quais me perdi.
Hoje chegou uma sensação virada do avesso, como se me tivesse vestido ao contrário. Enrugou-me numa continuidade sem limites. E não sei se me faltaram os sorrisos ou simplesmente me faltou a vontade.
E assim fui amachucada, sem aparência, cinzenta e sem luz ao fundo do túnel. Ao virar da esquina surgiu um – boa tarde…estranho como poderiam estar a cumprimentar alguém com tão péssima cara enfadada no seu luto. Acho que nem respondi não por vontade mas por surpresa. E fiquei sem definição, sem ideia, sem reacção. Andei com o pensamento preso a essa boa tarde…que afinal não passava de uma péssima tarde. E a sensação essa já tinha passado mas ficara a desilusão…entre muitas que estão para vir. No entanto, que motivos para voltar a vestir-me do lado certo, que motivos para colocar o colarinho para frente e não as duas mangas no braço direito? Sim, porque era assim que me sentia torcida no meu corpo. Esse boa tarde foi uma quebra de assunto, uma tal urgência em mudar. Obrigado pelo cumprimento...afinal há sempre há hipótese de recomeçar em péssimas tardes…porque hoje como diria Alberto Caeiro - " sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura."

domingo, outubro 30, 2005

Atalhos do ser...

Não sei em qual das esquinas do ser se vira para norte ou sul...
Não sei sequer que direcção se segue, que caminho encurta as distâncias...
Na curva da espinha rodei para voltar ao mesmo sítio.
O pensamento sempre me desliza dos pés a cabeça numa descida rápida.
Como se o fim fosse sempre voltar ao principio.
E de todos os atalhos que encontrei nenhum me alterou o percurso.
Em todos me perdi pela vontade de não me querer encontrar...

domingo, outubro 23, 2005

Meia-luz...

Estava a meia-luz a lâmpada não ia além da corrente. Volts a menos para o escuro da noite. Não sei se era falta de energia supunha ser antes a vontade de claridade. Todos os movimentos lentos uma sensação nula, um vazio que chega pela falta de distinguir as cores. A esta hora do dia apenas os ponteiros avançam já tudo o resto se encerra. Ainda assim, o esforço de permanecer se pudesse a sentir a respiração, a ouvir o tic-tac do coração a pouca velocidade. E fica o tempo – demasiado tempo até – para contemplar o sentido desta vaga permanência, desta vaga insistência. Não posso sequer descrever porque giram agora as horas, mas sei que giram em torno do espaço que não se desloca mas que avança. E se viesse ao menos uma resposta, ai seria claro e límpido, mas nada apenas uma vontade de não adormecer porque hoje eu sei que ainda tinha algo para dizer.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Arestas que cortam...

Esta sensação não vale sequer uma batida acelerada do coração. Há falhas que o tempo compacta num cubo de arestas limadas sem volta de transformaçao e não num círculo onde tudo gira. Não sei porque ainda insisto em o querer esculpir, mas estas arestas já cortam...já ferem. Há que o guardar na prateleira deixar que o pó caia, deixar que a cor se desgaste, que o tempo o abata. Que fique nesse síndrome do esquecimento. Que se divida por vontade própria, não sei sequer que utilidade lhe daria...Hoje cheguei com a vontade de já ter partido, daqui ainda oiço essa voz, mas lentamente arrumo o meu cubo de quatro faces. E ainda que me desmembre em palavras, todas são uma ida sem retorno, todas são uma ultima gota de saliva. E já não fico mais a espera de ver esse cubo em circulo se transformar, já não me deslumbro, já nao o recrio, já não o invento, já não me ofusco...apenas o arrumo.
Imagem retirada da net

quarta-feira, setembro 28, 2005

Época de promessas...

Espanta-se o Zé pela mudança do tempo, avanços e recuos de vidas. Em sua mente já não cabem mais viradas. Os teclados ferem a vista e atrofiam as mãos enrugadas pela terra. Máquinas a mais para a soma dos anos da sua existência. De conhecimento apenas a tabuada, os rios, e caminhos de ferro. O livro de poemas do António da aldeia fazem as delícias de quem escuta rimas que falam do campo... é o que mais sábio Zé já ouviu proferir. E então chega o político que tenta entrar em qualquer fechadura, promentendo mudar a vida de quem já passou por ela e a desafiou dezenas de vezes sem conta. E então fala no PIB, no défice, palavras que o Zé não entende e que para sí nunca foram necessárias para um só dia de uma vida. Promete o novo lar para idosos, o novo futuro hospital...promete arranjar as ruas da freguesia, dar emprego aos jovens. Oferece-lhe o panfleto e o avental para a esposa e indica ao Zé onde colocar a cruz. Ainda grita: - Vamos juntos mudar isto!
E eu pergunto onde fica o juntos pelo caminho. E o que foi feito do Zé?

quarta-feira, setembro 14, 2005

Passagem permanente...

O som faz eco pela sala, a parede branca fere a vista. Diria mesmo que mais um pouco e também eu seria cal. Essa tinta corre entre os anos, persegue este crescimento. Cada vez que ai passo ainda escuto as gargalhadas ainda me revejo de calções e canelas finas.
Já não vejo os adultos como velhos. Eu é que já me sinto com saudades do tempo.
E passo pelos anos em ti, passo de todos os tamanhos, de todas as maneiras, passo não apenas por passar. E deixou-me ficar...fico porque ai é o canto que fica por trás do nada e pela frente de tudo...

quinta-feira, setembro 01, 2005

Tempo nulo...

No dia zero que ninguém vive, no tempo nulo que ningúem percorre viajam os sonhadores. Então entre panos brancos, deita-se a cabeça sobre a almofada quadrada, as vezes tão quadrada como a mente de muitos. E as palparas encerram a jornada o escuro opaco do dia. Correrias assaltam a noite, encontros, desencontros, aproximações e afastamentos. É um misto de felicidade e medo. A essência do amargo e do doce. Tão rápido estamos em Jacarta, como estamos numa esplanada em Lisboa. E que bem sabe esta sensação de viagem, não fosse somente das melhores deste mundo. No entanto, depressa morremos como assistimos à morte. Depressa somos heróis como somos derrotados. E então voltei a pensar acordada e o sonho é apenas uma personificação da vida. Nem a sonhar escapamos da sua inércia madrasta ou de fortuna.

terça-feira, agosto 23, 2005

Sala de Espera...

O calor que entrava por a estrada aquela hora era mais do que quente era abrasador. No entanto, havia que correr uma consulta médica estava marcada para essa mesma tarde. Os ponteiros do relógio pareciam correr mais rápido que as rodas sobre o alcatrão. Clínica São Paulo, depressa nos remetia a mente para o brasil ou para o céu divino. Não encontrei piada ao nome, nada cativante a não ser as duas analogias do cerébro...optei então por ficar pela primeira ideia pelo menos significava novas paragens. Lá dentro as habituais decorações pálidas que indicam doença. As cores não se ficavam além dos amarelos, brancos, cadeiras almofadadas pretas e de madeira. Uma recepcionista agarrada ao caderno com mil nomes disse: Boa tarde! e logo em seguida - O Srº doutor chegou atrasado a consulta vai demorar um pouco.
Mas, não me espantei é hábito, qualquer clínica que se preze faz os pacientes aguardar, mesmo que a dor insista em não esperar. Sentei-me já com a previsão de ir esperar horas, a inquietude desta visão fez-me desesperar. No entanto, lá peguei nas revistas todas elas de Dezembro ou Agosto de anos não correntes já há muito. Actualidade nula portanto. Á minha frente estavam dois casais de idosos. E eis a melhor surpresa da tarde. O meu ouvido insistia em cair sobre as suas conversas. O mais falador resmungava porque estava ali a perder tempo em vez de estar a regar as flores. Enquanto isso a mulher do mesmo dizia:
- Oh homem tu sossega. Depressa esboçei um sorriso. Estava então apresentada o que seria a minha fascinante tarde e sem esquecer nunca que estava numa sala de espera. O mesmo homem dizia ao seu outro companheiro de espera (o outro casal que lá se encontrava e que por sinal nunca antes se tinham cruzado.)
- Olhe amigo eu trabalhei uma vida inteira de sol a sol, e se hoje tenho a vida que tenho foi graças a mim.(A voz altiva não escondia a vaidade do feito.)
- Então o amigo vá lá dizer isso a esta juventude de hoje, que logo vê a resposta que obtém.
Depressa percebi que a minha geração estava em análise, logo eu seria um elemento a considerar para a estatística.
- Nos dez anos a seguir ao 25 de Abril só não ficou com dinheiro quem não se deu ao trabalho.
- Pois pode ser.
- O meu marido ia trabalhar e levava por lá dias sem voltar ( proferia a mulher do aventureiro trabalhador, enquanto isso a outra mulher apenas olhava como que em seus pensamentos passa-se toda uma vida de trabalho sem grandes lucros.)
- Tenho três filhos e todos eles formados.
- Há pois.
- Dos três qual deles têm a vida melhor!
- Fiz a minha missão, agora quando Deus me quiser levar tou pronto para ir.
- Então diga lá, não podemos ficar cá para sempre.
Um belo raciocínio simples, mas que insistimos em afastar ao longo dos tempos. Não queremos perder o nosso estatuto de eternos.
Entre uma conversa e outra, lá se levanta o falador e dirige-se a uma máquina de àgua, tipica das clínicas. A tarefa de retirar um único copo implicou ter de tirar todos os outros. A mulher lá lhe dava instruções, mas esta era uma máquina avançada de mais para o seu tempo. No entanto, nada que a prática não resolva. As notícias soavam na televisão. E lá entou mais uma vez a sua voz pela sala.
- O País está no fim, mas eu é que já cá não estou para o ver. Agora estas gerações novas (remetia para a minha classe mais uma vez), ainda vão sofrer não um bocado pequeno, mas grande muito grande.
Paralisei mais uma vez, e não era uma provocação era apenas a mudança que ele assistiu ao longo do tempo.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Abismos...

Os limites do abismo entre a ausência e a presença são dobrados pelos espaços nulos. Latejam as vidas de brilho e são fruto de dias vagos multiplicados pelo tempo. Pelo tempo que percorre não só o espaço, mas que atravessa a viagem de quem foge da rotina.
E a tentação de sair é mais quente e permanece a confiança na sorte de quem arrisca sem temer perder. E volta-se a barriga do avesso e sente-se o arrepio na espinha que fura a pele e entra pelo osso que acelera o nervo. O desconhecido prevalece pelos sentidos não acalma mas fortifica. E que se calem as bocas seguras de sí sem ousarem sair do hábito. Mas, que não se fechem os olhos pela falta de confiança mas sim pela falta de audácia.Mas se preferem prevaleçam então imóveis como estatuas verdes gastas pelo tempo, mas não se admirem se lhes faltar o sentir.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Portugal está a Arder...


Hoje enquanto via as notícias numa estação de televisão generalista, passou a mesma notícia que passa há dias...Perdão não a mesma notícia, todos os dias o tema é o mesmo...Portugal esta a arder. Então voltei a ver o negro do solo, a fumaça do nosso património, a falta de alma e consciência do nosso país e mais do que isso a ausência de sorrisos daquelas gentes. Perdidas pelo passado e perante um futuro tórrido tão ardido quanto os bens, tão inexistente como a poeira que voa agora pelos ceús! E sim eu sei que o ano é de seca não vivesse eu em pleno Alentejo, mas não me serve de desculpa. E na minha mente não culpo o tempo pela nossa falta de civismo. Então tentei imaginar, e olhei à minha volta na estante encontram-se todos os livros que já li e todas as histórias que criei na minha imaginação, resolvi então atribuir-lhe tremendo significado. As fotografias de uma infância que já não volta mas que tão bem me avivam a memória. E voltei a olhar para a televisão e apenas ouvia os relatos de quem perdeu tudo menos a fala. E passei os olhos por todos os quadros, sentei-me nesse sofá confortavél, liguei a música o bater das arvóres verdes lá fora faziam sombra à janela com as portadas meio abertas. O dia era quente, mas não tão quente como as chamas e o desespero que corroe os sentidos dessas gentes. E então pensei ser uma privilegiada por ter os meus livros, o meu sofá e ainda ter para onde olhar e ver verde. E agora imaginem o que é perder tudo, os livros a estante a casa e a vossa própria história! E esse sentimento depressa se esvai, como se esvaiu em mim ao imaginar...E ficou mais do que a frustação de olhar para essas imagens sem poder fazer nada. E enquanto os nossos olhos dobram apenas a tela da televisão, outros correm pela frente dessas chamas e choram por perderem mais do que a contrução de uma vida. Choram pela falta de credibilidade de quem apenas vê sem viver, e ficam as promessas de vidas felizes. E enquanto isso o país arde mas não é so fogo que o mata somos nós...ou alguns de nós!

sexta-feira, julho 29, 2005

Espero sempre um amanhã...

Não poderia deixar de dizer que espero sempre um amanhã para o Jornal A CAPITAL.

"Vou viver, até quando eu não sei...
que me importa o que serei...quero é viver.
Amanhã, espero sempre um amanhã
E acredito que será mais um prazer.
E a vida é sempre uma curiosidade,
que me desperta com a idade,
interessa-me o que está para vir.
E a vida em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza do meu prazer em descobrir.
Encontrar, renovar vou fugir ou repetir...!"
António Variações

quinta-feira, julho 28, 2005

Cá vamos indo...

Faltam as chegadas de simbiose e andamos a meio do fundo. Somos os fatos pendurados nos cabides de madeira, e fica a cota insegura sem iluminaçao para rejuvenescer. E já não se envolvem as essências e os odores. Ficam espalhados em seres pesados agarrados, pendurados, suspensos ao canto dos recantos escondidos, levados em braços pelos dias. Não fogem as palavras pelos suspiros e as sombras não se cruzam pelo soalho. Não se notam rasgos de vida, apenas falhas de vivências...lamentos que os anos não perdoam. E encerram-se as vontades e arrefece a aura da existência. Cortam-se as aspirações e a audácia é fugaz, mas prevalece a incerteza, e não ficamos pelos meios queremos o limite do fundo. Queremos desaguar em águas de fácil navegação, conformados pelo destino que criamos. E apelamos a entidades divinas que nínguem viu, no nosso mais puro acto de cobardia. E anulamos, esquecemos que o maior perigo vive dentro de nós. E cá nós acomodamos e assim cá vamos indo...

sábado, julho 23, 2005

Até já então amigos...


Queria apenas agradecer pelos bons momentos que vocês fizeram que eu vivesse.

Queria apenas dizer um até já.

Obrigado pelos sorrisos que fizeram brotar no meu rosto!

Ficam as saudades, mas não me vou despedir.

Vou continuar por aqui como sempre...

Até já então amigos!

P.S- Ficam a faltar fotos mas vocês, Rodrigo, Rafa, Nuno, Catarina...e todos os outros sabem...que o até já é para vocês também...

terça-feira, julho 12, 2005

E onde fica o simples?

o dia não corre mas desliza...
A boca não cola mas mastiga...
Os dedos não dobram mas curvam...
O olhar não enxerga apenas repara...
O sabor não é degustado mas altera o paladar...
O sereno não é parado é apenas tranquilo...
O céu é azul mas com pontos brancos...
A areia não é fina tem textura...
A pele tem marcas mais do que as do tempo...
O tempo não passa, apenas desaparece...
Não podemos ser sempre iguais, evoluímos...
O vazio, é inexistente...
O repleto, existe...
O vago não preenche a satisfação, mas o completo não deixa espaço.
Se é acessório não é necessário.
Resposta implica sempre uma pergunta, então porque não sei qual a pergunta a estas respostas.
Porque se é demasiado fácil, o difícil é demasiado complicado.
Então e onde fica o simples?

sexta-feira, julho 01, 2005

Um pedido de desculpas minhas e vossas...



Quando o lugar é mais marcante que a própria sombra. Quando a permanência não manifesta a voz, apenas estende a mão num hábito de rotina vincado no corpo, que ninguém vê. Mas que sente as pedras da calçada onde o horizonte pisa cada sapato de verniz. O olhar não curva mas sente essas vossas, minhas pegadas num sítio distante. Porque o hábito meu e vosso retira a visão e afunda o sentir. Mas há quem dobre a menina do olho por essa calçada que vocês e eu pisamos sem ver. Há quem simplesmente a conheça melhor do que os vossos sapatos de verniz por incrível que pareça...há quem lhe sinta o cheiro que levantam os vossos e meus sapatos importados de indiferança...Mas porém há dias em que reparamos, olhamos e vemos mais do que o nosso calcanhar...vemos esse ser que respira rente as nossas solas...e ainda bem que assim o é...porque hoje vi o quanto eras grande perto de mim e da minha e vossa indiferança diária...que usa os sapatos mas que não consegue ver para além da sua biqueira.

segunda-feira, junho 27, 2005

Corpo de inércia...

O caos do ser apenas se dobra na espinha. Queimam-se as chamadas de pensamento, e quebram-se as vidraças dos olhos...
Aclamam-se as chegadas de ar que invadem o corpo pelo corredor do sentir e curvam-se as mãos em formas diversas... que acordam o uso e desuso da alma. E os dedos furam mais do que a pele, flutuam no espírito e ondulam os avessos. E no paladar dormem as horas, calam-se as vozes e apela-se a inércia do rubor do tempo. E mordem-se as chegadas sem nunca querer pensar as partidas. E no espaço curto de palpitações deixam-se as noites pelos meios e os dias pelas metades.

domingo, junho 26, 2005

Um bocado de mim....

Vocês fizeram-me pensar sobre isto e aqui vai também a minha resposta.

Há 10 anos

01. Tinha 12 anos
02. Tinha amigos que ainda hoje tenho e vocês sabem quem são:)
03. A minha pequena mas repleta vila era o meu mundo
04. A patinagem era o meu passatempo
05. As viagens pelo país com os meus pais marcam das melhores memórias que tenho.

Há 5 anos

01. Tinha 17 anos
02. A viagem aos Açores foi inesquecível
03. Uma das melhores passagem de ano de sempre...
04. Descobri que as coisas afinal podiam não ser para sempre...
05. A Praia do malhão foi sempre o destino de boas recordações.

Há 2 anos

01. Tinha 20 anos
02. Acabei o 2 ano da faculdade e decidi que queria ir para a Jornalismo
03. Lisboa tornou-se o meu habitat diário.
04. Eu e a minha família de amigos mudamos mais uma vez de casa, Anjos como destino:)
05. As coisas que descobri que não eram para sempre acabaram mesmo por mudar...

Há 1 ano

01. O melhor ano de faculdade...e já começam a apertar as saudades.
02. Preparava as férias e que férias:)
03. Ilha de tavira, amigos, sol, mais uma vez o malhão
04. Barcelona era o próximo destino...e inesquecível fica na memória para sempre, pela cidade magnífica, pela companhia de sempre, e por tudo...
05. Li o livro Budapeste e ficou na memória.

Ontem

01. Sai com o meu irmão companheiro de todas as horas.
02. Acabei a tarde numa esplanada com as minhas grandes amigas Rita e Ana e com o também grande Amigo Karika
03. A noite terminou numa festa de santos populares os típicos bailes de verão de Aljustrel para mim o melhor sítio do mundo.

Hoje

01. Acordei já tarde
02. Fui tomar um café com amigos
03. O dia ainda não terminou...

Amanhã

01. Não gosto de prever o futuro
02. ...........
03. ..............

5 coisas sem as quais não consigo viver

01. Família
02. Amigos
03. Praia
04. livros
05. Conhecer novas paragens....

5 dos meus hábitos

01. Escrever
02. Falar
03. Ter companhia por perto
04. rir
05. Não me esquecer das coisas, mas perferir não falar

5 programas/ séries televisivas que gosto

01. Telejornal
02. CSI
03. Expresso da meia noite
04. De mochila as costas
05. e tantos mais....

5 bandas/músicos favoritos

01. Ben Harper.....Walk away

02. Jack Johnson

03. Gentleman

04. Trovante

05. e uns rapazinhos amigos Aspegic que vão ser o sucesso dos próximos anos


3 coisas que me assustam

01. Perder alguém de quem gosto
02. Perder-me a mim
03. e perder mais alguma coisa...

3 coisas de que gostaria muito de fazer neste momento

01. Fazer as malas era sinal de ir viajar
02. mergulhar no mar
03. comer uma taça de gelado

5 lugares que gostaria de visitar quando em férias e que ainda não conheço

01. Tailândia
02. Cambodja
03. Marrocos
04. México
05. Dubai e todos os possíveis










sábado, junho 25, 2005

Existências/ Inexistências

Ainda que só o murmúrio do asfalto levante a brisa que todos os poros abrem pelo chão.
Que o ventilar dos segundos caía sobre a cortina do tempo.
Que se chame vagabundo ao andar e vadio ao olhar.
Ainda assim que se dobrem os espíritos de apatia e que fluam as mentes...
Que todos os deuses quebrem as asas de divinos e se enxerguem todos os andantes em terra firme.
Que se dispersem todos os momentos vagos, mas que afinem e sintonizem os que contemplam a audácia...Mas que reforcem o valor da timidez que assusta os que ainda não se revelaram por não se deixarem ver ou porque nunca os viram…

sexta-feira, junho 24, 2005

P.S - A espera das notas dos exames...

Já começa a fervilhar entre os dedos a chegada desse tempo... De mudança e de virada.
Já entra pelos poros o bater mais acelerado das horas...
E já escorrega pelo pensamento a angustia de não saber o passo seguinte…
Mas fica o aguardar trémulo dessa mudança de página, dessa nova morada…
E resta apenas o que sobra dos dias…o que sobra do tempo desta espera!
Neste tempo de consumo...

P.S- A espera dos notas dos exames...

sexta-feira, junho 17, 2005

Brecha...a céu aberto.

O ritmo dos dias fenda o corpo liso. E essa estrada que liga o coração ao cérebro encontra mais do que nada. Pisa e esconde as feridas que cá dentro vivem abertas ao ar do corpo, e dos outros que penetram pelo dia solto. Solto das pernadas que o erguem, mas virado pelo vento que o sopra. E não sei se hoje me entendem a gramática, mas penso não existir sentido no que se sente. Ou talvez não se murmurem os silêncios. Por os ouvidos não quererem escutar a entoação grave e aguda que fura não só a cartilagem, mas que afunda as vogais pela brecha que abre sem remendo que a abafe.

terça-feira, junho 07, 2005

Apaziguamentos...

Andam loucos os fonemas, loucos de dizer sílabas...
E saíem sem gramática, sem léxico.
Falam, gritam e arrastam-se pela língua e alteram o paladar.
E sobram as artérias alteradas de forma...
Pulmões que encham tais esforços de garganta e ar.
Capacidades de reserva encontradas no fundo do ser onde corre mais do que o sangue, pois tudo o que corre desagua sempre em sitio seguro e vasto...vasto como a alma.

quinta-feira, junho 02, 2005

Sem nome...

O tempo anda solto...
As vozes cantam...
A epiderme arrepia-se
O dormir é tranquilo...
O sonhar sereno como a noite...
E chegam sinais de fumo...transparentes.
Matéria colorida...
Nuvens de leveza voam para direcção alguma...
Cái o sentir pelo pano...desvendam-se os dias...
Retira-se o nome as coisas...os nomes as pessoas...
e fica apenas a essência.
Será que reconhecem agora este ser!!
Nú de atribuições e somente humano...

quarta-feira, junho 01, 2005

Estarei por aqui...

A noite nem sempre dorme...tem momentos que grita de angústia feroz e sentida. Cai sem sentido o bater do coração vago de atitude e repleto de contrastes,secreção de cores variadas ora verdes ora azuis, amarelas e leitosas. Cores associadas a lesão, para a qual ainda ninguém inventou estudo suficiente ou metódo para a cura. E brotam dores de mágoa...já pensaram o quanto pode doer um músculo hemorrágico e torcido de solidão? O tempo é uma distorçáo de horas e quando não chegam boas memórias fica a espícula que fura o sentir. E tudo o que resta agora são pedaços de querer, procura de lugares mais que finitos que o ser. Retalhos de céu que façam voar e léguas de mar que acalmem a vontade de aqui querer ficar.
Mas apenas te peço que ondules os olhos para conseguires ver que afinal não estas só porque estarei sempre aqui, mesmo que não me consigas ver. E estarei mesmo quando a mim não me quiseres chamar...porque
sei que nem sempre assim se faz, não por não querer mas por não se conseguir fazer. Mas acredita que estarei...

quarta-feira, maio 25, 2005

A uma só voz...

Gira a bola em torno do vento e não o vento em torno da bola...
Entorna-se o desejo pelo abismo e fica o surdaz movimento de inquietude.
E não caiem os olhos no chão apenas as mãos não deslizam presas aos braços estáticos.
Gritam as vozes roucas e o desmedido querer viver.
Fica a vontade mais longa...e esse tempo imóvel de vidas cruzadas, paralelas, ora verticais ora horizontais apenas várias cabeças unidas pelo mesmo ponto. E forma-se essa recta humana perfeita.
E não se multipliquem os dias por uma só noite, mas sim uma só noite por vários dias.
Caras que falam sem abrir a boca... sorrisos infinitos de alegria, despertam o sonho já remoto mas vivo.
Quebram-se as memórias e renasce a história...Porém bem mais interressante faze-la do que apenas a ler.
E afinal hoje a cor habitual do interior do corpo pinta todos os membros exteriores.
e fica a epiderme colorida num só tom...e sonoriza-se o dia a uma só voz.

sexta-feira, maio 20, 2005

Corpo linguagem Universal...

O corpo Rejuvenesce com as descobertas, testam-se medicamentos que o revitalizem, ensaiam-se danças em que a expressão corporal é o espelho do belo. É o portador de grandes pensadores, grandes matemáticos e grandes políticos. O corpo é ciência, é cultura, é história, é movimento, é comunicação, é moda, é parte integrante de todas as actividades humanas.
É o tema que atravessa os tempos e permanece na actualidade. Põe a falar os mudos através da expressão e faz ouvir os surdos. É o meio, é o canal, é a mensagem que todos compreendem. O corpo é a língua oficial da humanidade.
Hoje, mais do que nunca o corpo é ícone presente nas mentalidades. Está associado à publicidade, à saúde, à performance, à estética. A imagem é algo a preservar. O corpo transmite e relaciona novas e velhas tendências.Exemplo disso são as tatuagens, o cuidar da performance que prevalece desde a Grécia antiga, a escultura e a pintura que tornam o culto do corpo intemporal.
O corpo é arte...arte de vivências, arte repleta de características diversas, arte representativa do ser, o corpo é essência, é o transmissor da sensação a epiderme...
O corpo é língua é dialecto...é cor, é país sem fronteiras....
O corpo é a linguagem universal...

domingo, maio 08, 2005

Para lá desta Ponte...

E aqui da outra margem…vê-se a outra viagem, o azul nos olhos que aqui abarca neste cais. O caminho mais longo que o habitual, a realidade diferente repleta de sonhos e de recordações que pareciam em suas memórias já vagas. E chegaram sozinhos, para esta aventura e tudo mudara a entrada desta ponte que ligava a planície à cidade. Eram mais confusas agora as imagens que o dia tocava, eram tantas as mudanças que para lá da porta tudo eram novidades. Os passos sozinhos que deambulavam pelas ruas eram a medo, o roteiro era certeiro e sem novas nortadas. O tempo afastava-se e com ele o hábito. Chegavam novas caras, novas vivências e tudo aprecia ser mais fácil…mas ficava o pensamento em ventos do sul. E com os dias já não era notícia…era apenas um novo começo, e ficava essa ponte segura que nos ligava sempre que quiséssemos ir embora para matar a saudade.

domingo, abril 10, 2005

Não sei se o tempo vira...

Não sei se o tempo vira, mas sei que as horas são loucas voltas.
Que sentido ganham as risadas, sem companhia para as fazer rir? Ganham mais que o tempo porque fazem parte de si e porque lembram quem as fez rir. Mas, se ris sozinho afinal porque ris? Para acordar a alma, para que ela não se esqueça de ser feliz. Estranho sentimento que parece exigir mais de ti…mas para quê exigir se assim ele teima em querer fugir! E as noites são fáceis de dormir? São quando o sono quer vir. Mas não pensas no que pode vir? Penso que seria bom, que o sol voltasse a brilhar por aqui. E se ele trouxer coisas más? Ele nunca as trás. E se resolver chover? Ai brotam sinais de frio e arrepios…O dia cobre-se de negro e os sorrisos são mais fáceis de esquecer…Esquecer sorrisos? Quando o músculo aperta cobre-se a memória de dias negros de chuva e a face pinta-se num só tom triste. E? E depois resta voltar a sorrir…e decerto que as horas passam... e o tempo esse não sei se vira,mas esquece!

sexta-feira, abril 08, 2005

Dias de sol...

Reservam-se as mudas de roupa…
Reservam-se as razões…
Aumenta a sede e a frescura pálida desse bafo de calor…
E as cidades têm mais luz…tanta, quanto a que o espectro reflecte.
E transpira a pele mas escurece a melanina.
E ficam estes dias morenos…
E as folhas verdes delineiam as sombras.
Que giram e rodam consoante a hora.
E os olhos não conseguem enxergar de frente…
Caiem as lágrimas provenientes dessa luz invasora…
Que inunda a íris e que atrai os corpos…
E o dia ganha a sua lâmpada natural…
E o ar suga a respiração…
Explode o magma…
Um céu repleto de azul…
E mergulha-se nessa imensidão…
Apenas esta brisa murmura.
E perde-se a noção do tempo…
O roteiro não é definido e altera-se a rotina…
E a bússola do olhar, essa sempre encontra um caminho…em dias de sol.

domingo, março 27, 2005

Nos olhos...

A espinha nem sempre curva ou dobra, mas dobram os olhos e deles caiem sal de alegria ou de tristeza…frescura que refresca o rosto de cor transparente.
E retiram a sede da pele mas não do coração. Porque essa é uma sede que não cessa através de gotas. Inunda-se a vontade mas não se criam cheias ou inundações no músculo. E enxuga-se de todas as formas o sentir, e o mar da praia é menos vasto que a sensação…de chorar a rir ou de chorar apenas por não se conseguir sorrir.
E nesses momentos sim, se sentem os arrepios na espinha… e aqui dobra e curva, por balançar ao mesmo ritmo da queda dessas gotas de sal, e por sinal das batidas mais aceleradas e sentidas do ser. E eles enxergam a alegria e a tristeza... e sentem tanto e por vezes tão mais que o corpo no seu todo. E deles brotam sorrisos e gargalhadas, despedidas e mágoas, e partem-se vidros e amachucam-se as risadas…por tanto e por tão pouco. Mas, certamente tão profundo e choram porque assim se expressam, assim falam e cantam.

terça-feira, março 22, 2005

E assim se salpicam os dias...

Salpicam-se as noites...
de estrelas e de céus menos azuis...
Salpicam-se as horas de tempo...
Os minutos de segundos...
Salpicam-se os sorrisos e os olhares...
distantes e próximos...
E viram as páginas do avesso...
E o livro continua a decorrer...
Muda-se a página...
Salpica-se a leitura de interpretações...
E volta a rotina dos salpicos...
Salpicos de paladar... de partidas e chegadas...
Mas o dia continua, com o simples salpico da existência...

terça-feira, março 15, 2005

Sonhos...

Giram as gotas e o orvalho cai em tons de refresco. Fusco o toque erudido do chão sempre quente. Brisas de silêncio e murmúrios de pensamentos mágicos... ilusionistas da vontade de sair para o abismo, mais que finito para os racionais mas tão vasto para quem não precisa de dormir para sonhar. E aqui se procuram as asas...e elas levam para paragens mais claras que o céu. Nuvens transportadoras de matéria colorida e imaginária, mas real e sentida. Mergulhos em água cristalina e o sal apenas se funde nos olhos, mas capricha na visão repleta. E caiem estrelas e o mundo roda, e ficam as doses de sorrisos cúmplices de faces rasgadas. E não são necessários corantes para atribuir cor, paletas de tinta correm na mais pura tela e ganham voz e sentir...No único quadro real...a capacidade de sonhar.

quarta-feira, março 09, 2005

Calendários...

Esta comédia genial de nos pendurarmos no tempo e ficar agarrado a ele.
Um encontro de dias e noites e uma hora repleta de minutos, esquecida dos segundos e longe dos mostradores de ponteiros. Absurdos os calendários que riscam o presente e projectam a ansiedade pelo futuro. Datas idênticas ano após ano, repetem-se nos mesmos meses, nos mesmos dias, para não apagar da memória dos que se esquecem por natureza.E assim, se exorcitam os fantasmas, se celebram as tradições e comemora-se sem saber o significado.
E eis que o dia seguinte, apenas chega discreto... e a recordação essa, só volta no ano seguinte.
E são necessários então dias especiais para recordar?

domingo, março 06, 2005

Palavras...

Palavras que tocam sinos de aviso e batidas aceleradas, densas e contidas dentro de uma garrafa vazia e transparente que amolga o bater e faz estremecer o âmago.
Palavra de soma de letras, que no entanto, somam mais que a própria conta. E ficam as junções de sílabas conjugadas não num tom vocal mas escrito…E correm a maratona do sentir num só segundo vago. A entoação fica solta e valem mais que o cronómetro do coração. Minúsculas e maiúsculas as memórias, do que dizem e não se esquece. Abecedários infinitos a pensar e o convite por escrito ficou feito. E fica a leitura de quem as enxerga sem as poder mudar…

domingo, fevereiro 27, 2005

A chover...

A cada gota de chuva calcula-se a percentagem de atingir o corpo, de molhar os pensamentos e de ensopar os sentidos. Gotas frias e grandes caiem junto da janela, mesmo aqui tão perto desta protecção de vidro, que apenas apazigua o som agudo e áspero das partículas que deslizam pelas portadas. Um dia escuro, mas apenas de aparência, nuvens pesadas dessa água que acalma o sentir e refresca os movimentos pesados, comparados com a sua leveza…
Dessa transparência não densa, surgem as formas mais redondas, repletas e vagas…depressa se fundem pelo soalho, que sempre avisa o ponto de chegada ou de partida para quem o pisa.
Quebram o silêncio e sonorizam como pequenas batutas que acompanham o tempo. E de si chegam sinais de frio e de arrepios, invadem o céu e pintam o dia num só tom cinzento.

sábado, fevereiro 19, 2005

de(votos)....

Surgem as campanhas...
As prometidas mudanças...
as mesmas promessas de vidas felizes...
e dias coloridos...
O primeiro dia do resto das nossas vidas...
e contam-se as cruzes...deste povo....
que ainda assim teima em fingir que acredita...
Pilham-se as palavras...
e os rastilhos estão prestes a queimar...
Um acto de consciência...que afinal, não se é capaz de levar a sério.
Ficam as esperanças e vontades...
Mas, vamos ainda assim a votos...embora menos devotos...
mas não se esqueçam, que afinal o prometido é devido....

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Aquário de gente...

Um aquário de gente, que rodopia e volta a girar. O mesmo aquário onde as vontades se percipitam e onde cada um se desloca para um fim, mas por barreira o vidro é sempre o limite dos que tentam alcançar a saída. Este espaço aquático de percipitações, de troca de olhares, de cruzamentos distantes, de vidas agitadas e pouco repletas, de dias vagos e de rotina vincada nos corpos. Bolhas que deviam ser de respiração, elemento vital à sobrevivência são desabafos em tom de descompressão. Estes peixes a que me refiro e que deviam de flutuar, são porém peixes com membros e as barbatanas sao apenas apendices fictícios...podem ser girinos porque se enquadram perfeitamente dentro de um aquário, nunca no mar, porque esse é demasiado libertador e vasto para o ser que por natureza se habitua a ser limitado...Hoje imaginei o Homem dentro de um aquário(sociedade) e não o consigo daí retirar, talvez porque a sua perfeita condição se espelhe nestes vidros, nas paredes deste aquario...

sábado, janeiro 29, 2005

Dias ao contrário...

Hoje a noite é dia,e o dia é noite. Dois pólos, duas linhas que se corrompem.
As asas de voar ficaram presas a este andar, que ainda assim se desloca, mas não voa.
Estes mesmos passos a caminhar e este mesmo dia a correr, as horas ao contrário e o sorriso do avesso. E de novo esta impressão digital da existência...rios de ideias e ao longe acendem-se memórias que devolvem o tempo,porque hoje o mundo esta do tamanho desta laranja.Como o cais que tudo abriga e que tudo esquece. Gastos de consciência e de movimentos paralelos, de cabeça para baixo e sem vontade de voltar à posição normal...não tivesse este dia ao contrário, e não fosse o dia o avesso da noite.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Estado febril...

Neste estado quente...
Onde o corpo arde, e os olhos queimam
Temperaturas incostantes...
Por vezes frio...
Outras calor...
Oscilações de disposição e de movimentos...
É assim que estou...
A queimar,
Com frio e calor...Neste Estado febril...

quarta-feira, janeiro 19, 2005

É só mais um Espaço...

Este espaço físico, que fica entre as duas muralhas de ser e de ver. Este mesmo espaço de movimentos complexos que resume e altera a essência deste lugar.
Neste lugar onde tudo emana, onde tudo revira e tudo volta a vir, onde se espreitam e escondem as risadas (do ser e de quem as vê). Aqui neste espaço multidimensional do agir e do sentir, que dirige em todas as direcções, que sorri e por vezes chora...que avança e por vezes volta a recuar. Este mesmo sítio multiplicado por anos e somado por vontades, este refugio de palavras e de conversas. Muda-se a posição, muda-se a disposição e o espaço permanece, muda-se as vivências e ele acompanha a viragem do tempo... na sua perfeita condição intemporal.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Simplesmente,simples...

Simples é olhar e apenas ver...
É sorrir e expressar...
É respirar por viver...
É ouvir este som e o seu eco....
É sonhar acordado...
Porque viver é simplesmente,simples...
O difícil, é aceitar que o é...

domingo, janeiro 09, 2005

E eu já te disse o quanto é bom viver aqui?

Abro a minha janela que sabe o que é o cantar dos pássaros…
E o bater das folhas das árvores…
Consigo ouvir o vento…
E o olhar desliza sem me perder no betão…
Aqui ainda existe céu…
Porque neste sítio…
Tudo é perfeito de mais para te o dizer…
E como tenho medo de não o dizer...
Corro o risco de não o descrever…
E Afinal…
As coisas especiais não se dizem, sentem-se…



sexta-feira, janeiro 07, 2005

Fim de Tarde...

Passam pessoas, passam aviões e eu aqui estou parada no semáforo à espera de ver o peão verde acender e me ordenar a passagem para o outro lado. A rua estreita e de calçada cinzenta é o espaço futuro que me espera, para mais uns passos curtos derivado à subida que se aproxima. No caminho uma esplanada repleta de gente, não do bairro, mas de forasteiros em busca de um fim de tarde agradável e lugares capazes de apaziguar os seus corpos flácidos, dependentes do barulho. No entanto apenas o seu físico se instala, o seu espírito continua agarrado ao escritório, ao telefone, ao fax, ao telemóvel... à secretária e ao cinzeiro. Embora não possuam fato ainda os enxergo assim, consigo ver as gravatas, os colarinhos brancos e os sapatos de verniz. Talvez por a posição em que estão sentados, as costas parecem afundar numa cadeira de rodas e não numa cadeira de plástico um pouco suja derivado às folhas que insistem em cair ao fim da tarde.
Decididamente esta gente não pertence aqui...
Mais uma curva e eis que me deparo com o cenário inverso, alguém de avental grita, sonorizando uma voz fininha, capaz de fazer tremer os nossos ouvidos, contudo agradável e característica do local e do momento. Quando o meu corpo se cruzou com o seu, no meio dos seus gritos ainda foi capaz de expressar um boa tarde...Agora sim já me encontrava no bairro, antes parecia ter-me enganado no roteiro.

domingo, janeiro 02, 2005

Visão anual...

Mais um ano...
Um bom ano escolar...
Uma boa primavera...
e um excelente Verão....
Praia,mar...
Ilha de Tavira, Carvoeiro, Barcelona e claro sempre o MALHÃO...
como destino e boas recordações...
E tudo isto com vocês (amigos) e muito sol...
E as folhas voltaram a cair...
De volta à universidade...e ao encontro de todos os outros amigos...
ao encontro dos velhos e dos novos...
De volta a Lisboa...mas sem nunca esquecer o Alentejo...
Voltou o frio...
e nada melhor do que encerrar...nesse sítio especial...Sagres...
E Aqui termina o ano...Hoje ja é o segundo dia de 2005!!


Disse apenas as coisas Boas...para não acordar as más..:)