quinta-feira, janeiro 08, 2009

Mãe

Foi ontem mãe, mais coisa menos coisa, que me tiveste. Estás igual. Os 26 anos não passaram por ti. Continuas a cheirar a perfume e trazes as mãos com as unhas longas. Não sabes quantas vezes já te vi a pôr verniz. Tantas. Já não durmo na tua cama, resolvi ter um espaço meu. Mas tem dias que me aninho no teu leito, normalmente com o acordar das manhãs. Não imagino como um corpo como o teu me pode ter suportado. Se não fosse verdade, duvidaria. Bem sei que não te sai nas semelhanças. Somos diferentes. Tenho a pele mais morena, o cabelo mais escuro, os dedos maiores do que os teus e o meu tamanho já te abraça por cima. Sou teimosa e tu és mais conformada. Não nos vestimos de modo igual e bem sei que, muitas vezes, me gostarias de ver de blush rosado. Tenho os meus aspectos e tu tens os teus. Somos uma face da mesma moeda, mas tu és a coroa e eu sou a cara. Tem vezes que o bater do teu coração se ouve mais perto da minha boca. E tento remendá-lo, quase sempre sem jeito, sem nexo. Depois, voltas a sorrir e a perguntar muitas coisas. Tantas que me deixas confusa. Mudamos muitas vezes de linha, desafinados, desatinamos. Voltamos a sintonizar-nos na mesma estação. Irrito-me e tu ris. A timidez muitas vezes ata-me os braços e retrai-me o atrevimento. Deveria de ser mais fácil dar-me. Alinhas a vida à esquerda, normalmente no mesmo sentido em que bate o coração. Acho que aprendi a fazer isso contigo. E, não sabendo como, quebro-me muitas vezes e sinto coisas apertadas cá dentro. É a vida, diria a avó. Ambas não herdámos a sua perseverança. Muitas vezes pensei porque não me tiveste em Julho. Janeiro, decididamente, não é o meu mês. E sem haver nada a fazer, não te preocupes, porque imagino sóis nas persianas. Repara que tenho muitas coisas para te dizer, mas perco-me. Não há forma original de te mostrar. Um dia pintei uma pedra e fiz dela um ouriço. Ainda a tens na secretária e fizeste dela um pisa-papéis. Depositei nela todo o meu empenho e orgulho-me de seres tu que a estimas. Mãe, não poderia ter crescido melhor e não haveria melhor ventre para nascer.

7 comentários:

Anónimo disse...

Gostei.Muito.

Anónimo disse...

Emocionei-me ao ler. Os sentimentos não são fáceis de descrever e estão todos aqui.

Anónimo disse...

È a VIDA!!Intensa como ela só!
e Apaixonante!
Adorei Bruna..!!
beijao!

Anónimo disse...

que um dia a minha filha tenha palavras tão lindas para me contar como tu espalhas as tuas.....

beijinhos

Anónimo disse...

"Filha"

Foi com emoção que li o que me escreves-te. Não esperava, tu és tão reservada nos teus sentimentos, sei que não deve ter sido fácil falares de mim.
As mães querem sempre o melhor para os filhos, não quer dizer que estejamos certas, mas a mãe é assim.
Obrigado por as palavras lindas com que me descreves e, só te posso dizer que estou muito orgulhosa de ti, és a filha que qualquer mãe gostaria de ter. Cresces-te, já não dormes na minha cama, mas continuas a ser a minha menina linda e alegre como sempre.
Adoro-te filha, bem haja o dia em que vieste ao mundo, para me fazeres tão feliz.

rapariga do tejo disse...

Sóis e luas de felicidade...

A MÃE
Máximo Gorki

Aconselho vivamente

Anónimo disse...

Mãe é mãe e a tua é adorável, todos os sentimentos que lhe descreves-te são poucos para a mãe maravilhosa que tens.Ela adora-te, adora-vos a todos, uma grande senhora, só terias a quem puxar, continua e não tenhas receio de mostrar os teus sentimentos, o que te vai na alma, vais longe miúda, muito longe.
Adorei.