quarta-feira, dezembro 15, 2004

Vazios de Conversas mas repletos de silêncios

Uma cidade povoada de gente, uma cidade repleta de sons de carros, de autocarros, de aviões, de buzinas e de sirenes de emergência. É este o nosso despertar diário poluído de ruído e vazio de conversas. Cruzamo-nos na rua mas não nos vemos, sentamo-nos na esplanada mas cá estamos nós sozinhos e repletos de gente, apanhamos o elevador e olhamos para a porta como se de uma eternidade de viagem se tratasse!
Quantas palavras proferimos desde que acordamos até encontrarmos alguém de conhecido?
Para os que tomam a cafeína que dá alento e energia para o despertar normalmente são quatro “Por Favor um Café”, isto na melhor das hipóteses quando a gentileza se nota e surgem aquelas regras de etiqueta e de boa educação. No entanto, só são proferidas quando não se encontra uma máquina daquelas que apenas nos mostra a ranhura da moeda de 50 centimos e nos dá de bom grado o café, ou o descafeinado para os mais nervosos.
Para os que apanham o taxí normalmente são para “ sitio X por favor” , continua a ser a média de 4 palavras, a tarifa a cobrar normalmente é proferida pela boca do motorista ou pela plaquinha electrónica mesmo diante os nossos olhos. Para aos que se dirigem a bancas dos jornais, proferem tantas palavras consoante o nome dos diários e das revistas.
É este o nosso hábito diário de poupar nas palavras e nas simpatias, poupar nos olhares e distantes de quem está próximo na nossa rotina diária, distantes dos nossos companheiros de viagem e dos nossos colegas de elevador.
Para quem viaja sozinho até ao seu local de trabalho o silêncio ainda se torna maior, mas não muito diferente de quem apanha um metro repleto de gente. É que aqui só os barulhos dos carris a ranger na linha se ouvem em ruído de quebrador de silêncios.
Até que por fim chegamos aos nossos recantos fechados de novos olhares e novas gentes, e lá exercitamos esse processo de comunicação a que chamaram fala.

2 comentários:

Anónimo disse...

A cidade esta repleta de sons mas sem duvida que quem a habita nem por isso...parabéns pela escrita!!
João Pedro

Anónimo disse...

A ARTE DO TEU SER

Alguma vez conseguiste sentir a perda da noção do tempo e do espaço quando fazes alguma coisa? Alguma vez deixaste de sentir o respirar?

Estar na presença de um bailarino que deixou de o ser para dar lugar exclusivamente ao movimento, estar na presença de um pintor que deixou a técnica no passado e apenas se entrega ao que a tela pede....é simplesmente avassalador.

Perceber que existem pessoas que são absorvidas pelo que fazem, deixando de ser quem são no dia a dia, é algo que me maravilha. Naquele instante são pura arte...pura arte de ser e pura arte no sentido literal da palavra. A arte não está na técnica, no ter que fazer, está na entrega total ao que quer que seja. Pode ser um quadro, pode ser um livro...pode ser amar e, mais que tudo, está na capacidade de sermos nós mesmos.
Gostei muito do teu blogger, aqui tens alguns pensamentos que nunca foram revelados... E.M. Aloha