domingo, janeiro 15, 2006

Monólogo...

Nos olhos pálidos pela falta de brilho, caem os dias, caem as noites. Escorregam as esperanças e alastram-se pelo corpo num cansaço trémulo, nesse mesmo cansaço já há muito anunciado mas adiado. A brisa arrefece a face, já não se reconhece, já não conhece outros propósitos além dos mesmos de sempre. Os mesmos fardos injustos e pesados. O relógio marca o atraso de viver a conta gotas. Somente o coração não abandona essa cor quente que inflama os poros. Ai comporta todos os sorrisos trémulos, adia todos os silêncios, aqui sente tremer cada toque, cada lembrança e cada nova chegada sua, dele…chegadas a dois e por vezes a sós.
Desdobra-se no tempo em mil pedaços, para perceber o que já não entende. Abandona-se a si na esperança de assim abandonar o que sente. E depois entre as palavras que se perdem, entre as interrogações que ficam permanece o mesmo feitiço de sempre. Desgarram-se os sentidos nessa batalha feroz, mas frágil. E onde fica esse lugar a salvo? Onde se preenche os vazios? Como a areia que escapule por entre os dedos, assim lhe foge o que anseia. Desfaz-se em qualquer coisa se possível, para que este rumo mude de direcção. Para que esta ferida que não sara, cicatrize. E ao menos se pudesse deixar de ouvir esse tic- tac do coração, essa batida frenética do gostar que entoa e faz eco no corpo todo. Ainda assim…seria mais fácil deixar de querer. E nos dias gastos sobram as sombras geladas como gumes perdidos, por falta desse sentir que abarca o espírito.

1 comentário:

GLP disse...

Bonito texto...

Beijinhos