quarta-feira, novembro 21, 2007

A chuva que ri...

Andando em caminhos tortos – porque isto não é tudo a direito, como dizem – salpico-me da chuva que cai cega. Regozija-se. Tanto lhe faz molhar a calçada dos peões, os guarda-chuvas, a roupa do varal ou a mim. Imagino que no céu se ri, quando salto de poça em poça. Debuxo que abre gargalhadas fartas, desocupadas do sol. Cá em baixo, vejo-a sentada de perna trocada numa nuvem azul e chora de tanto rir. Olho lá para cima e returco tamanha felicidade. Acho que percebeu que anunciou a primeira cura das searas. Pouco, ou nada, chove. Tiro o capuz da cabeça – movimentos prematuros de quem ainda joga anzóis ao estio – e fico desprotegida, como se tivesse despida, às vontades da estratosfera. Volta a chover. Penso, agora, que esteja deitada numa nuvem a rebolar-se de tanto rir. Encharcada e árida espero a tempestade. Temo os relâmpagos e as trovoadas. Suspeito que assustem os peixes nos lagos e os pássaros tiritem as penas nos ninhos. A mim não me metem pânico, cruzes canhoto. Raios partam os raios.

4 comentários:

Anónimo disse...

:)que bonito!

Anónimo disse...

As lágrimas da chuva só podem ser de alegria. Boa observação. A chuva é um gozo.

Anónimo disse...

ahahhahahahahahhaaa.Inspirada?

Anónimo disse...

A tua cabeça é muito boa. Quem te projectou?