quarta-feira, junho 13, 2007

Havana abrasa o fresco

A pedido de várias famílias e dos abastados do sol...cá vai.
Dactilografar uma cidade é coisa pouca. É ser abreviado em forma e odores. Havana fica entre a terra e o mar, onde o horizonte é azul, mas menos claro que o céu. Fica a bailar numa estrada grande, com pessoas deslizando à beira sal. O sol aquece o peito, os ombros e fervilha num individualismo mais que primário. Diria que o homem amorna ao seu calor. Nesse dia, não vi chegar o tempo. Não olhei as mãos caucasianas, pálidas. Membros escuros do clima deambulam numa cidade de antes e não sei de que data. Arriscaria a dizer que, aqui, a locomoção mexe mais do que em qualquer outra parte do mundo. De pé em pé o alcatrão fica para trás. Longe ficam os motores potentes e paira um cheiro de combustível ainda a arder. Sabem quando abrasa o fresco? É assim que me cheira Havana. Num soalheiro sem frio. As casas são de pedra crua, nuas e quase sem cal. A luz é reduzida a meia voltagem. O dia começa mais cedo do que em qualquer outro local do mundo, em que eu já tenha adormecido. É a sensação de acordar muito cedo, porque me deitei não que muito tarde, mas a meio da noite. A oralidade cresce em cada esquina, a conversa floresce do nada como se não fossem os viajantes os que conhecem país distante. Somos a peça que chega com novidades do mundo de cá e com cara de bom poder de compra. Nas curvas, nas rectas e nas entrelinhas ficam os cartazes que não se contornam incitando a uma consciência comum. Fiquei com a sensação de um herança de crenças, que passa de pai para filho até que o filho a renegue, ou não. Assim, em Havana há uma linha de sucessão ou de diferenciação. Não é uma cidade cosmopolita e a sua alma prende-se nas cordas da roupa agarrada por molas em qualquer varanda de qualquer casa de portas abertas e de vidas escancaradas. O dia corre ao sol, os sinais continuam vivos, as pessoas cantam e andam quase sempre na rua. Creio mesmo que este seja o seu maior abrigo. A língua deambula em lábios fáceis de meter conversa. Havana é um mundo particular, onde se podem inventar as nossas vidas anteriores e por mais que julguemos as actuais é sempre uma indecisão ao avaliar. Pode-se aprender o convívio, mas há algo que nos fica atravessado nas paredes das casas, que parecem ter tijolos transparentes. Há algo que quem só vive em Havana compreenderá. Nós ficamos com esse cheiro de quando abrasa o fresco. Ficamos com as nossas ideias, com as nossas concordâncias e as nossas discordâncias. Há gente em Havana, tanta gente que o Malecón à noite é uma imensidão de sal e cabeças à beira azul. Nós nos nossos trajes de europeus em nada se assemelhamos a quem sabe viver assim, em paredes cruas em Havana. É fácil de falar de Havana distante. É muito difícil de escrever. Mas o que mais trago em mim…é esse cheiro quente, mesmo quando o vento se levanta.

8 comentários:

Anónimo disse...

Há pessoas que são tão bonitas de dentro para fora em igual proporção! Dá vontade de ir. Beijocas

Anónimo disse...

oh brasa, abrasas o fresco:P Sempre em viagem. Beijinhos morena

Anónimo disse...

Cuba foi o sítio onde estive que mais me marcou. Havana é um destino a (re)visitar sem qualquer sombra de dúvida. MÁGICA!!

Anónimo disse...

Já não era sem tempo. Os abastados do sol agradecem a que se tenha dignado a dar a sua palavrinha sobre o assunto.O fim-de-semana não é de sol porque nem o tempo conspira contra ti.

Bailarina disse...

Foi essa Havana que eu também conheci, mas confesso que o país não ficou gravado em mim... A piñacolada, essa sim, é fantástica! Mas sobretudo ali, na beira da estrada ;)

Anónimo disse...

CUBA!!si!HASTA LA VITORIA SIEMPRE!!
ainda na fui a este maravilhoso destino!!mas vou la certamente!! e que seja na msm altura que tu foste....ida a 27 de abril e volta essa é k ja nao tinha data!!hihi!! na altura do grande 1º e Maio!!!
Esse cheiro quente ,tambem o kero sentir...deverá ser unico!!beijoz e HASTA SIEMPRE!!

Anónimo disse...

depois de ter lido este texto a nostalgia pairou em mim...esse cheiro voltou à minha mente...o barulho às 7 da manha tb....a alegria...o riso....o OLA k tds os cubanos nos disseram....adorei simplesmente...fico feliz d ter partilhado esses momentos ctg,,,,bj gd pomba *** ana ameixa

Mark disse...

Habana!Habana! Se eu dissesse tudo o que penso sobre Habana e tudo o que senti e vivi em Habana ficava aqui três dia e não acabava.
Posso ter vivido muito em Habana mas não gostei da Cidade - para mim, não passa de um aglomerado de miseria tijoleira... Gostei, sim, do sentimento das pessoas. Naquelas veias corre algo diferente que nunca tinha visto nas minhas viagens.. O cheiro é muito intenso. Mas já alguma vez paramos para cheirar o nosso país?!