sexta-feira, junho 15, 2007

Histórias nossas

Cinco pessoas, um punto e um candeeiro. Poderia ser a história de qualquer livro infantil, mas é história de gente grande, ou que já pensa que o é. As rugas, essas, só valem quando chegam ao cérebro. Então nós mais a sul, o carro apinhado, as conversas que o temos de trocar mais do que gastas. Porque raio não se compra um carro novo? Porque a essência é mesmo essa, bens materiais não fazem falta a ninguém e por aí. E o carro a ouvir discussão de gente feliz. Mais um passo, outro, o carro apinhado. Vilamoura no horizonte, risadas e reviradas de olhos. Auto-estrada cheia, em caminho de Agosto. Carrinhos passam completos de gente que vai descansar por quinze dias, as férias do ano. Essas em que se acabam com os trocos e em que se comem gelados à noite na marginal. Os filhos querem tudo. Os pais dizem que já chega e que já se foi o subsídio de férias. O marido anda feliz com a mulher. A mulher anda feliz com o marido. Os meninos apanham praia e às vezes comem uma bola de Berlim na areia. O descanso é pleno. À noite compram um frango assado e comem na varanda da casa alugada. Isto é que é qualidade de vida diz, normalmente, o pai. Olham em frente, os vizinhos também estão a comer. Os homens estão em tronco nu e as mulheres cheiram a champô e a creme para depois do sol. A mulher acha que o frango é pouco, traz uma sopa para aconchegar mais o estômago. A janela é de correr. Está uma noite quente, longe ficaram as horas no escritório de contabilidade. Distraída na sua satisfação plena, os vidros limpos de mais e a falta de vista ajudam a errar na saída. Não sai na portada aberta. Embate no vidro. As crianças riem, os adolescentes “pelam-se” a rir. A mulher ri. Estamos de férias. O pai avisa: não partam nada que a casa só tem coisas do melhor. O apartamento com piscina, mesmo na rua da praia, pertence a uns emigrantes que foram para a França, mas que não trocam Portugal por nada deste mundo.
O punto na estrada. A auto-estrada cheia de nervosos a quererem chegar e eis que passa um senhor conhecido da opinião pública, de óculos azuis. Basicamente, um senhor que goza com os outros. O punto cheio. O senhor num carro em que se pode optar por tirar a capota e o condutor do punto a vê-lo no retrovisor. Tenta ultrapassar e não consegue, porque o punto é potente. O condutor do punto faz-se de rogado, aperta com a máquina. Não dá mais. Não ficando satisfeito diz: Passa por cima. E nós a pensarmos: pronto amanhã somos piada nacional naquele programa em que as pessoas se levantam para rir.
Um cheiro esquisito. Ninguém o sente. Errado, ao condutor cheira a combustível derramado. Os pneus nos eixos, os risos rasgam-se mais na boca, a relva da câmara municipal estragada, o nosso charme sacudido à rua e o acontecimento virou história. Sai do carro, cheira-o como se tratasse de uma bomba. Nada, o punto continua vivo para mal dos seus pecados. Ninguém o quer trocar. As férias continuam ao seu volante.

P.S – Rita, não troques o punto ele é nosso amigo.

5 comentários:

Anónimo disse...

grande maneira de viver:) uma vida sem legendas. Partilhar aquilo que de melhor se faz. Uma resposta para a monotonia. 20 pontos.

Anónimo disse...

ahahahaha o charme sacudido à rua! Maninha es GRANDE, GIGANTE e temos para aí 7 a 8 metros de altura. Sabes bem, Adoro-te.

Anónimo disse...

Afinco-lhe que as loiças não se partem nem estalam como as castanhas. As loiças detonam-se. Tudo ao chão e levantem-se as mãos para o céu.
Um cheiro esquisito? Suspeito que alguém deve ter aquele perfume. Já a tropecei para infernizar a vontade e fazer crestar os lábios. Raios partam a miúda.
O charme sacudido à rua? Compre a revista mais interessante, “As Faces”, e arranja logo uma ideia brilhante para o recuperar. A moda do verão dita cores claras.
Mais dicas na rua de cima.
Gostei, você tem a sua graciosidade.

Anónimo disse...

Só me dá para rir. Excelente.

Anónimo disse...

Rita não troques o punto. Ele é altamente digo eu e toda a gente.