Nas manhãs de Inverno sempre se julga que a frieza do tempo é mais fria que a despedida. No entanto, o tempo mau vai com a chegada da primavera, mas a dor de sentir alguém a ir-se fica entranhada pelos poros da pele. E enquanto as temperaturas desciam, eu ouvia apenas essa voz de mágoa num misto de medo. E eu ali a sentir que o ar não faltava só a quem estava preso a essa cama, mas a quem se movimentava e lamentava a minha frente. Não me é ninguém chegado apenas um conhecido de rua de há anos. Mas nunca eu me sentira tão próxima de alguém tão distante dos meus dias, da minha rotina e dos meus hábitos. Mesmo que ninguém lhe pergunta-se pela vizinha Maria, mulher calma e pacata amolgada por alguns cardos da vida, mas feliz nos mistos sabia que a situação se agravava, era o meu caso. Com os dias era inevitável apenas uma máquina lhe sustinha a respiração. E quem sustinha agora a respiração a este homem (ao vizinho Manuel) que sente a escapulir pelos dedos a companheira de uma vida…a dor de quem sente a partida sem dizer adeus, de quem se sente ao abandono da sua sorte madrasta. De quem já não tem muito a perder e afinal perde tudo num simples folgo de ar. Entre um suspiro e outro eu ouvia – E agora que vai ser de mim? Nunca a solidão me esteve tão vincada no corpo. Nunca o desespero de alguém me ecoou tão alto nos ouvidos . E eu imóvel sem sorrisos alheios com a vontade de esticar a mão, mas sem a proximidade suficiente para abraçar. E inconscientemente pedias-me a mim, e a quem tivesse ali que pedissem por ti e pela Maria. E ainda que não acredite e não seja apologista da eternidade hoje se pudesse era a tua Maria que a daria. E se me pedes eu rezo ainda que não me converta, para que essa dor não seja tão fria quantos estes dias.




Queria apenas agradecer pelos bons momentos que vocês fizeram que eu vivesse.

P.S- Ficam a faltar fotos mas vocês, Rodrigo, Rafa, Nuno, Catarina...e todos os outros sabem...que o até já é para vocês também...